“Cobiçar
a verdade é uma paixão muito distinta. Todo filósofo diz que está buscando a
verdade, mas raramente é esse o caso. Como observou o Sr. Bertand Russell, uma
das razões pelas quais os filósofos não conseguem alcançar a verdade é que
frequentemente não desejam alcançá-la. Aqueles que estão genuinamente
preocupados em descobrir a verdade são geralmente cientistas, naturalistas,
historiadores, e geralmente a descobrem de acordo com sua própria luz. As
verdades que descobrem nunca são completas e nem sempre são importantes, mas
são partes integrantes da verdade, fatos e circunstâncias que ajudam a
preencher o quadro e que nenhuma interpretação subsequente pode invalidar ou
contradizer. Mas os filósofos oficiais são geralmente escolásticos, isto é,
estão absortos na defesa de alguma ilusão adquirida ou de alguma ideia
eloquente. Como advogados ou detetives, eles estudam o caso para o qual foram
contratados, para ver quanta evidência ou aparência de evidência podem reunir para
a defesa e quanto preconceito podem despertar contra as testemunhas de
acusação, porque sabem que estão defendendo prisioneiros suspeitos pelo mundo,
e talvez pelo próprio senso comum, de falsificação. Não cobiçam a verdade, mas
a vitória e a eliminação de suas próprias dúvidas. O que defendem é certo
sistema, isto é, certa visão da totalidade das coisas, da qual os homens são
verdadeiramente ignorantes. Nenhum sistema jamais teria sido forjado se as
pessoas estivessem apenas interessadas em saber o que é correto, seja isso o
que for. O que produz sistemas é o interesse em sustentar, contra todo
arrivista, que certa ideia que preferimos ou que seja hereditária, é suficiente
e correta.” (Santayana, págs. 50 e 51).
George Santayana (1863-1952), filósofo espanhol em La filosofia en América (A filosofia na América).


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