Interação e adaptação das espécies

quarta-feira, 6 de julho de 2011

"Podemos nós pensar, sem estremecer, numa eternidade encerrada completamente na nossa ínfima consciência atual?"
Maurice Maeterlink    -    A morte

Os estudos da ciência concluem, cada vez mais, que a relação entre as espécies vivas é muito maior de que imaginávamos no passado. À medida que os nossos conhecimentos sobre os seres vivos avançam, chegamos cada vez mais à conclusão de que todo o sistema vivo da Terra, aquilo que no passado chamávamos de “natureza”, só consegue se manter devido a uma intensa interdependência entre as diversas espécies. Como exemplo da interação das espécies, citamos o caso de três tipos de urubus, que eram muito comuns na Índia e em outras partes da Ásia: o urubu de bico longo, o de bico estreito e o de cabeça branca. Através de estudos científicos realizados há poucos anos, ficamos sabendo que estas espécies de urubus estavam em rápido processo de extinção, sem que se encontrasse sua causa. Depois de muitas pesquisas, os cientistas descobriram que a morte das aves era provocada por um tipo de antiinflamatório, utilizado nas vacas, de cujos cadáveres os urubus se alimentavam. Nos bovinos e nos seres humanos o medicamento atenua a dor, mas nos urubus causa falência renal. Como conseqüência do rápido desaparecimento das aves, milhares de carcaças de vacas apodreciam ao sol, onde incubavam antraz (doença infecciosa causada por bactérias) e serviam de alimento para cães. Além disso, com a fartura de carne que não era consumida, dada a redução na quantidade de urubus, houve um grande aumento na população de cães selvagens e, com isto, a ameaça de propagação da raiva. Assim, a quase extinção de três espécies de urubus, aumentou a probabilidade de disseminação de epidemias perigosas ao homem.
Por ser o resultado de um processo evolutivo que começou há 3,8 bilhões de anos e ainda continua, a vida conseguiu adaptar-se a todos os nichos. Nas profundezas dos mares, a 9 ou 10 mil metros de profundidade; debaixo de milhares de metros de gelo na Antártida; no fundo do solo, a 4 mil metros abaixo da superfície; em todos os lugares encontram-se seres vivos. A maioria destas espécies é formada por microorganismos, espalhados por todos os ambientes. Recentemente, cientistas descobriram novos tipos de bactérias, sobrevivendo em águas com altíssimos teores de acidez, localizadas perto de fontes termais. A capacidade que bactérias e fungos têm em adaptarem-se aos ambientes mais adversos, é utilizada em benefício do homem e da proteção do meio ambiente. Pesquisadores desenvolveram técnicas nas quais utilizam fungos para descontaminção de áreas poluídas por gasolina, óleos lubrificantes, corantes e solventes. Da mesma forma, águas contendo metais pesados (cromo, mercúrio, chumbo, etc), extremamente danosos à saúde, podem ser recuperadas através da cultura de microorganismos ou por acumulação em plantas, que posteriormente são removidas do local contaminado. Outra técnica desenvolvida, é a utilização de certas espécies vegetais e animais como “marcadores”, através dos quais os cientistas têm condições de determinar o tipo e a quantidade de poluição que está afetando determinada área ou bioma.
A importância de preservarmos espécies ou ecossistemas não está baseada simplesmente no fato de que temos a obrigação ética de preservar a biodiversidade do planeta. Os ecossistemas nos oferecem vários serviços – alimentos, recursos genéticos, controle do clima, preservação da água e do solo, para citar apenas alguns – que não poderemos obter de nenhuma outra maneira.
(imagens: Henri Cartier-Bresson)

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