Aumento do preço dos alimentos

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

"[...]Numa noite há muitas noites
mas de modo diferente
de como há dias
(especialmente nos bairros
onde a luz é pouca)
porque de noite
todos os fatos são pardos
e a natureza fecha
os olhos coloridos [...]"

Ferreira Gullar  -  Poema sujo


Volta às manchetes a discussão sobre o aumento dos preços dos produtos agrícolas. No Brasil, a tendência de alta é associada a uma leve inflação geral nos preços, resultado do crescimento acelerado fomentado em parte pelo próprio governo em 2009. A questão, no entanto, não se resume a isso. O que está ocorrendo em todo o mundo é um aumento generalizado nos preços das commodities agrícolas, causando alta dos preços dos alimentos. Se no Brasil, onde a produção agrícola é grande e variada, o consumidor já pode perceber a alta dos produtos alimentícios na feira e no supermercado, como estará a situação em países que precisam importar grande parte de seus alimentos, por não disporem de solo e recursos para produzi-los? 
Os especialistas alertam para uma provável piora da situação, provocada por uma alta generalizada no custo dos alimentos e, consequentemente, causando fome para as nações mais pobres. O preço destes produtos já vinha subindo desde antes da crise de 2008, tendo alcançado um aumento de mais de 80% entre 2006 e 2009. Daí para 2010, o ritmo de aumento das commodities agrícolas foi mais rápido ainda. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), os preços de alimentos como o trigo, óleo, milho arroz, carne e leite já tiveram um incremento recorde até dezembro de 2010. Em países importadores de alimentos, como o Egito, a Argélia e a Tunísia – onde o alto custo da alimentação também contribuiu para os levantes populares – as famílias gastam de 40% a 50% da renda na compra de alimentos. Os países pobres em geral, já foram obrigados a aumentar suas despesas em 8% com produtos alimentícios. 
Uma crise como esta não acontece por acaso. Para alguns, a principal causa do aumento dos preços dos produtos agrícolas está no crescimento do consumo. Com o desenvolvimento econômico é cada vez maior o número de pessoas em países como a Índia e a China, que com melhores salários tem acesso a um cardápio mais variado. Em geral, segundo a FAO, a demanda por commodities agrícolas deverá aumentar bastante nos próximos anos. Até 2030 a produção de carne precisará crescer 48%; o milho 30%; óleos vegetais 43%; açúcar 60%; e o arroz 19%. Para atender a este aumento de consumo, os grandes produtores de alimentos como o Brasil, os Estados Unidos, a Austrália e a Argentina, precisarão ampliar sua área agrícola e tornar esta atividade mais eficiente. Outra causa do aumento dos alimentos é a especulação. A ONG GRAIN (http://www.grain.org/front/) informa que os investimentos especulativos em alimentos cresceram de cinco bilhões de dólares em 2000, para 175 bilhões de dólares em 2007; e continuam aumentando. 

O site Mercado Ético reporta que durante os meses de agosto e setembro de 2010, na bolsa de Chicago, o trigo alcançou um aumento de preço de 60% a 80%, em relação ao mês de julho. Esta movimentação fez com que multinacionais da alimentação realizassem contratos futuros, garantindo a posse de milhares de toneladas de trigo mas provocando uma imediata elevação do preço do grão em todos os mercados. O Banco Mundial e a FAO vem alertando para o perigo da especulação financeira com produtos agrícolas. Se estas operações beneficiam especuladores e produtores, podem levar centenas de milhões de pessoas a padecer de fome crônica.
(imagens: Rubens Gerchman)

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