Produção, população, poluição, pauperização

quarta-feira, 21 de março de 2012
"Podemos encarar a ciência como uma disputa entre hipóteses rivais, da qual só sobrevivem algumas."  -  Susan Blackmore  - O poder dos memes

A capacidade de resiliência de todos os ecossistemas é mais ou menos limitada. Dependendo do grau de destruição, um ecossistema pode não se recuperar mais à forma original. Recentemente cientistas observaram que áreas florestais aparentemente recuperadas depois de desmatamento, apresentavam uma diversidade vegetal menor do que a floresta original. A tendência é que o mesmo aconteça com a fauna, já que em processos de destruição ou poluição de ecossistemas, com dizimação de espécies, a posterior recuperação da cadeia alimentar não é mais completa. Assim, por falta de um produtor acabam desaparecendo também outros predadores, criando uma reação em cadeia que desestabiliza e empobrece a biodiversidade daquele ecossistema ou bioma, dependendo do caso.
Este processo de destruição de biomas, habitats e ecossistemas está ocorrendo em todo o mundo. O crescimento populacional, aliado à constante expansão das áreas agrícolas, está destruindo o tênue equilíbrio que ainda resta no “ecossistema Terra” (a famosa hipótese de Gaia, de James Lovelock). A tendência é que o acúmulo de resíduos na água e no solo, a poluição atmosférica, a erosão dos terrenos e a destruição da biosfera – ocasionados pela econosfera – acabem conduzindo a humanidade a um impasse.
Se por um lado poluímos o planeta (ou seja, os recursos naturais), por outro o aumento populacional força-nos a produzir quantidades cada vez maiores de alimentos, destruindo remanescentes de estepes, florestas e outros biomas naturais. O aumento da população também provoca o aumento do consumo, o que requer um uso cada vez maior dos recursos naturais e gera volumes crescentes de resíduos.
A Terra, mais especificamente os sistemas de seres vivos que compõem a biosfera, tem certamente um limite de resistência (resiliência) à poluição e destruição. Não se sabe ainda qual seria este limite. No entanto, já sabemos que vivemos cerca de 30% além das possibilidades de recuperação do planeta (a famosa pegada ecológica); estamos usando recursos naturais em demasia. Não sabemos por quanto tempo a Terra suportará este processo, mas já temos noção que estamos causando uma das maiores mortandades de espécies na história geológica da Terra. Isto é um fato e não uma suposição.
É bastante provável que a humanidade não desapareça junto com a maioria das outras espécies vivas. Provavelmente, dizem alguns cientistas, morreremos lentamente, até que depois de alguns séculos somente algumas centenas de milhões de humanos poderão sobreviver com o que restou dos ecossistemas da Terra. Uma elite econômica dominará os recursos e as armas. Milhões de humanos viverão em um mundo com ecossistemas fortemente afetados; com solos, águas e atmosfera poluídos. Os recursos naturais – principalmente os minérios – reciclaremos até que cheguemos ao ponto em que buscaremos minerais na Lua ou em Marte, que por esta época também teremos povoado através de pequenas colônias autossuficientes.  
É evidente que nesta descrição existe muita imaginação. No entanto, não é provável que possamos sobreviver como espécie por muito tempo, tendo bilhões de bocas para alimentar e mantendo um sistema econômico que, visando o benefício de alguns, está exaurindo os recursos naturais do planeta. A causa ambiental é moral e pelo andar da carruagem está perdida de antemão. O que podemos fazer é postergar ao máximo a data limite de nossa validade.
(Esperemos que esta breve descrição apocalíptica de nosso futuro não se realize – apesar dos esforços em contrário).
(Imagens: fotografias de Eugène Atget)

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