O trânsito em São Paulo

quinta-feira, 5 de julho de 2012

"Elimina-se aqui a dicotomia entre ser e aparência, assim como entre ser e devir, porque o ser passa a se mostrar como mera construção ilusória da aparência e a sofrer como uma tal aparência a força avassaladora do devir"  -  Marco Antônio Casanova  -  Nada a caminho  -  Impessoalidade, niilismo e técnica na obra de Martin Heidegger



A situação do tráfego de veículos é cada vez mais grave em São Paulo. A extensão dos congestionamentos vem aumentando mês a mês e tem durado cada vez mais tempo durante o dia. O engarrafamento mais longo até o momento na história da cidade ocorreu em junho deste ano, quando havia 295 quilômetros de filas de carros – mais do que a metade da distância entre São Paulo e Rio de Janeiro. Para quem mora e circula pela cidade, já são comuns os congestionamentos aos sábados à noite e domingos à tarde. Durante a semana, o trânsito só começa a melhorar a partir das nove horas da noite. Ruas e avenidas que até há pouco tempo tinham um trânsito leve, por estarem fora dos grandes fluxos de deslocamento, estão sendo usadas como rotas de fuga dos congestionamentos, aumentando ainda mais o caos e a falta de alternativas de circulação. Em dias de chuva temos caos quase total (seria total se coincidisse com manifestações na avenida Paulista).
O grande problema da cidade, segundo os especialistas, é o crescente aumento do número de veículos em circulação. Na cidade com cerca de 16.000 quilômetros de ruas, são emplacados a cada dia cerca de 700 novos veículos, quantidade equivalente ao número diário de nascimentos. A frota de veículos na cidade quase ultrapassa os 7 milhões de unidades; formadas por  5,2 milhões de  carros; 892 mil motos, triciclos e quadriciclos; 718 mil micro-ônibus, caminhonetes e utilitários; 158 mil caminhões e 42,3 mil ônibus.
Grande parte do problema está no próprio desenvolvimento da cidade. De pacata metrópole, com uma modesta mas relativamente eficiente infra-estrutura de transportes até a década de 1950, São Paulo transformou-se em uma megalópole com rápida expansão territorial e populacional, devido à industrialização, urbanização e migração. Este crescimento, no entanto, não foi acompanhado pela expansão dos transportes públicos.
Nosso metrô, por exemplo, tem uma rede de apenas 74 quilômetros, ao passo que Paris tem 211, Nova York 370 e Londres tem 415 quilômetros de redes de metrô. Os cerca de 11 mil ônibus destinados ao transporte público que diariamente circulam em São Paulo, são insuficientes para atender a demanda, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade.
Resta ao cidadão procurar suas próprias alternativas, apelando para o uso cada vez mais freqüente do automóvel, acessível a uma parcela crescente da população devido à facilidade de crédito. Aliás, não deveria ser novidade o aumento do uso do veículo próprio, já que desde a década de 1950 os governos só vêm priorizando o uso dos veículos automotores, em detrimento de outros meios de transporte menos impactantes para o ambiente urbano, como o bonde (quem se lembra dele?), o trem, o ônibus e o metrô.
Em todo o caso, está aí o problema e precisamos achar uma solução, pois além da perda de tempo, reduzindo a produtividade, o trânsito causa custos e poluição com a queima desnecessária de milhões de litros de combustível. A poluição, por sua vez, provoca mudanças no clima e na saúde dos habitantes da cidade. Aumentar a duração do rodízio, criar taxas para circular em certas zonas da cidade, instituir o compartilhamento de veículo alugado, aumentar os investimentos em transporte público, facilitar o uso de meios não-poluentes de transporte como a bicicleta, são algumas das propostas sugeridas.
O assunto é importante para o futuro da cidade. Precisamos nos lembrar disso por ocasião das próximas eleições municipais; cobrar uma posição dos candidatos também com relação ao transporte público. Não se trata de resolver os problemas, para isso uma só gestão é pouco tempo. Mas como administradores aparentemente capazes, têm obrigação de apresentar alternativas – e implantá-las caso eleito.  
(Imagens: fotografias de Alexey Titarenko)

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