Classe (abaixo da) média

domingo, 25 de novembro de 2012

"O comércio é um extraordinário sistema auto-sustentável de criação de laços (compra, venda, parcerias, contratos, empregos, etc.), mas são laços móveis, mais livres que os laços fixos e territorializados criados pelas sociedades hierárquicas tradicionais. O "capitalismo", assim como a morte e a sexualidade para a evolução biológica, é talvez a artimanha da evolução cultural para mobilizar as pessoas, acelerar as circulações, ampliar e flexibilizar o porte dos laços sociais e difundir inovações,"  -  Pierre Lévy  -  A conexão planetária - o mercado, o ciberespaço a consciência


Apesar da propaganda do governo, o Brasil não é um país de classe média – e ainda está longe disso. Segundo relatório divulgado recentemente pelo Banco Mundial (BIRD), a maior parte da população brasileira ainda se encontra economicamente em uma zona cinzenta, sendo classificada como “vulnerável”, por ainda correr alto risco de retroceder socialmente. Pelos critérios adotados pelo banco, 28% dos brasileiros são pobres, ganhando menos de quatro dólares (R$ 8,00) por dia. O grupo dos “vulneráveis” situa-se na faixa com rendimentos entre quatro e dez dólares por dia (entre oito e 20 reais), representando 38% da população. 32% são de classe média, com renda diária entre dez (R$ 20,00) e 50 dólares (R$ 100,00). Quem ganha acima destes valores faz parte da classe alta – somente 2% da população do país.
Ao longo dos últimos quinze anos houve efetivamente uma melhora da renda dos mais pobres – fruto da estabilidade econômica, de projetos de renda mínima e do aumento da oferta de empregos. Com isso, cerca de 30 milhões de pessoas puderam ter acesso ao consumo de produtos e bens básicos; do queijo e iogurte ao televisor e telefone celular. O crescimento da economia fez com que os níveis mais baixos antiga da classe média também aumentassem seu consumo, adquirindo o primeiro carro novo e o primeiro imóvel para a família.
Enquanto no Brasil melhorava a condição econômica das classes mais baixas (apesar de ainda estarmos colocados entre os dez países com a pior distribuição de renda), a economia mundial entrou em uma forte crise a partir de 2008. Considerado o pior solavanco na economia mundial desde a queda da Bolsa de Nova York em 1929, a crise em uma primeira fase afetou a economia americana, espalhando-se posteriormente por todo o mundo, derrubando as economias européias. Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha já estão enfrentando a estagnação de seus mercados, com altas taxas de desemprego. A crise ronda toda a região do Euro e já se fala em recessão na Itália, França e até na locomotiva alemã.   
Apesar de estarmos em uma situação aparentemente melhor do que estes países, ainda são grandes as diferenças entre as economias européias – mesmo sob efeito da crise – e a brasileira. Apesar de termos uma carga tributária de 35%, equivalente à da maioria dos países europeus, de longe não dispomos dos serviços (assistência médica, educação, segurança) e da infraestrutura (transporte, saneamento, energia e telecomunicações) que existem nestas nações.
Por outro lado, o custo de vida na maior parte destes países é mais baixo do que no Brasil. Em uma pesquisa realizada pela publicação Global Finance http://www.gfmag.com/), as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro figuram respectivamente na 12ª e a 13ª posição, entre as 51 cidades mais caras do mundo. Em outro estudo disponível no site Cost of Living (Custo de Vida) (http://www.numbeo.com/cost-of-living/), o custo de vida na cidade do Rio de Janeiro tem índice de 86,71. Comparativamente, algumas outras metrópoles mundiais têm os seguintes índices: Nova York - 100; Praga - 64,46; Berlim - 82,81; Beijing - 86,08; Delhi - 35,01 e Londres - 122,56.
Apesar de toda a propaganda ufanista, permanece o fato de que a renda média do brasileiro ainda é baixa; os impostos altos e pesado o custo de vida. Além disso, o acesso aos serviços públicos e à infraestrutura continua ruim.
(Imagens: fotografias de Timothy O´ Sullivan)

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