Como se desenrola o processo de degradação de um rio

quinta-feira, 8 de novembro de 2012
"Cuidar é administrar exclusivamente para um pedaço da cidade; governar é fazer como os bandidos, que dominam sem distinguir credo, cor ou posição social. Hoje, no Brasil, o crime, como o mais flagrante instrumento de igualdade, governa. Já o governo, que deveria tomar medidas contra ele... Bem, o governo cuida dos seus e de si (aumentando suas mordomias, salários e outros benefícios próprios do cuidar)."  -  Roberto Da Matta  -  Crônicas da vida e da morte

A poluição ambiental de um rio não é um processo repentino. Pode-se observar que o processo de degradação se dá aos poucos. Em um artigo bastante interessante a imprensa do Ceará descreve o processo de degradação e poluição dos rios Salgado e Jaguaribe; região onde periodicamente ocorrem chuvas, enchentes e, consequentemente, destruição de casas nos bairros ribeirinhos das cidades de Icó (Rio Salgado) e no município de Iguatu (Rio Jaguaribe).
A região, aparentemente preservada até há alguns anos, está sentido o impacto do aumento populacional, das atividades econômicas, da falta de controle ambiental e do baixo nível de conscientização da maior parte da população. Segundo o Diário do Nordeste (17/08/2009), as fortes chuvas que caíram no sertão cearense aumentaram o nível do Rio Salgado, destruindo áreas de agricultura e invadindo os bairros mais baixos da cidade. O motivo principal das destruições foi, segundo o jornal, a remoção da mata ciliar durante as últimas décadas. As margens do rio se transformaram em depósitos de entulho e lixo, recebendo todo tipo de resíduos. Além disso, a falta de sistemas de tratamento de esgoto faz com que no rio desaguem dezenas de toneladas de efluentes residenciais e industriais a cada dia.
Passadas as enchentes de 2008 (que são periódicas) o nível do rio caiu. Segundo depoimentos de lavadeiras (pessoas que conhecem o rio e o observam diariamente), o constante despejo de resíduos nas margens e no leito do rio, está provocando o “aterramento” (o assoreamento) do curso de água. Agricultores da região informam que durante as enchentes as embalagens de agrotóxicos ficam boiando nas águas e que empresas transformaram certas partes do rio em porto de areia.
A população mais antiga informa que no passado as águas do rio eram mais limpas e profundas, sendo que o rio era mais estreito, demonstrando um processo de assoreamento e de gradual poluição do rio. Dos 23 municípios que compõem a Bacia do Rio Salgado, dez não possuem qualquer tipo de saneamento. O jornal Diário do Nordeste informa que apesar das agressões ao rio por parte dos agricultores e moradores das cidades, as sucessivas administrações municipais nada têm feito para resolver o problema.
O tipo de poluição a que está sujeito o Rio Salgado são os efluentes domésticos (coliformes fecais), os defensivos agrícolas e os adubos artificiais (N, P, K). Além disso, segundo relatos, o curso de água também deve receber toda uma série de substâncias químicas de uso industrial e todo tipo de entulho; doméstico, de construção e industrial.
Além da importância em determinar os tipos de poluentes que o rio está recebendo, é urgente a necessidade de estabelecer um programa de saneamento e controle, investindo em tratamento do esgoto doméstico, forçando as empresas a construírem ETEs e instituir um programa de gestão de resíduos. Caso contrário, em poucos anos se repetirá na região o que já ocorreu em várias outras partes do país.
Bibliografia:
Rio Salgado em discussão:
Rio Salgado e Jaguaribe: poluição aumenta a cada dia
(Imagens: fotografias de Otávio Valle)

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