A parábola do sapo e do Leviatã

sábado, 30 de maio de 2015

"Ora, existem duas 'funções' numa democracia: a classe especializada, os homens responsáveis, assume a função executiva, o que significa que eles pensam, planejam e compreendem os interesses de todos. Depois, temos o rebanho desorientado, e ele também tem função na democracia. Sua função na democracia, dizia ele, é de 'espectador' e não de participante da ação."  -  Noam Chomsky  -  Mídia:  Propaganda política e manipulação

Famosa é aquela história (ou será parábola?) do sapo e da panela sobre o fogo. Segundo dizem, se você colocar o animal na água ainda fria, ele não perceberá que a água está esquentando e morrerá quando o líquido ferver. Mas se você pegar o anfíbio e jogá-lo em água já quente, ele imediatamente saltará do recipiente. Verdade ou não - e existem aqueles que afirmam que experiências comprovam o relato - a história não quer nos ensinar nada a respeito das reações deste pobres animais submetidos a experiências tão dolorosas, mas nos dizer algo sobre nós mesmos.
Na forma de parábola, o relato se refere ao nosso relacionamento com o meio ambiente, principalmente nos últimos 50 anos, quando nossa atuação sobre a natureza se tornou cada vez mais destruidora. Se há 100 ou 150 anos abríamos estradas, geralmente de terra para a passagem dos raros automóveis ou de carroças, em nossos dias mudamos paisagens inteiras, para a construção de autoestradas de seis ou oito pistas, permitindo o deslocamento de milhões de veículos e pesados caminhões.
Para nós modernos, tudo parece muito natural. Grandes obras, imensas cidades, largas áreas de monocultura, enormes fábricas empregando milhares de operários; tudo grande para produzir e distribuir vastas quantidades de produtos a serem consumidas por milhões de pessoas. A imagem lembra o gigantesco Leviatã, descrito pelo filósofo Thomas Hobbes. O monstro, que segura um cetro e uma espada representa o Estado, que por ser formado por milhões de cidadãos tem a aparência de um homem, constituído por inúmeras imagens de pessoas.
É aí que entra a parábola do sapo, mas que nos tempos atuais se transformou em Leviatã. O colossal personagem - na realidade formado pelos interesses, apetites e ações de bilhões de criaturas humanas - não percebe que através de sua atuação está destruindo suas próprias possibilidades de sobrevivência a longo prazo. A exaustão dos recursos naturais e a destruição dos ecossistemas que os abrigam, colocarão em risco, cedo ou tarde, a sobrevivência dos estados na forma como os conhecemos hoje.
Secas, tornados, nevascas, chuvas torrenciais, serão fenômenos climáticos que se tornarão cada vez mais comuns. A exaustão dos solos, dos recursos hídricos; a diminuição das espécies de peixes comestíveis; a destruição das florestas temperadas e tropicais. Tudo isto já está acontecendo, basta prestar atenção aos noticiários ou escutar as palavras dos cientistas. Enquanto isso, a economia faz questão em ignorar o assunto. "É preciso que a economia funcione a um ritmo cada vez mais rápido, para que cada vez mais pessoas possam consumir. Mais consumo, mais empregos, mais riqueza."

Será? Para que possa aumentar a velocidade da produção e do consumo é preciso tornar os produtos obsoletos em menor tempo. E assim consumo, venda e produção ocorrem em cada vez menor tempo, aumentando o ritmo de uso dos recursos naturais necessários para a produção de mercadorias (muito anunciadas pela propaganda e cujo financiamento é facilitado). Onde isto vai parar ninguém sabe.
Ou sabe. Basta ver a maneira como estamos degradando o ambiente com nossas atividades econômicas. Somos o sapo que se transformou em Leviatã e que não se dá conta de que a cada dia, ano e década a água está mais quente. Ainda há tempo para saltar da panela. Mais um pouco, no entanto, e será tarde para a maior parte de nós. 
(Imagens: desenhos de George Grosz)

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