Mudanças climáticas e as cidades

sábado, 22 de agosto de 2015
"Lição da História, mais uma vez: o vencedor de qualquer guerra é o que não a faz, ou, de qualquer modo, que não luta em seu próprio território."  -  Jacques Attali  -  Uma breve história do futuro

Prefeitos de diversas cidades do mundo reuniram-se no Vaticano, a convite do Papa Francisco. No evento foram discutidas as mudanças climáticas e seu efeito no ambiente urbano, como a degradação ambiental, a intensificação da pobreza e o aumento da vulnerabilidade social. Do Brasil, participaram os prefeitos das cidades de Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e Goiânia. Ao final do encontro os prefeitos apresentaram um documento enfatizando a importância da transferência de tecnologia dos países ricos diretamente às cidades dos países menos desenvolvidos e, especialmente, às das nações pobres.
A realização do evento volta a chamar a atenção para o fenômeno das mudanças climáticas, que é cada vez mais perceptível. O ano de 2014 foi considerado o mais quente da história, desde que começaram as medições das temperaturas globais, no final do século XIX. O primeiro semestre de 2015 confirma tendência de aumento, já que neste período a temperatura média do globo foi 0,85ºC maior que a normal. O processo de aquecimento da atmosfera deve continuar, já que as emissões de gases poluentes causadores do aquecimento global e, consequentemente, das mudanças do clima, voltaram a crescer em todo o mundo com a lenta recuperação das economias dos países.
O problema afetará todas as atividades humanas mas deve se tornar mais agudo nas cidades, onde já se concentra 54% da população mundial; percentual que deverá chegar aos 66% até 2050. Apesar de só ocuparem 2% da área do planeta, as cidades são responsáveis pelo consumo de 78% da energia mundial e por 60% das emissões de gases poluentes. Atividades como a geração de energia, tráfego de veículos, atividade industrial, uso de biomassa (principalmente para cocção nos países pobres) e geração de resíduos orgânicos (esgotos não tratados e lixo a céu aberto) são as que mais geram emissões de gases.
As cidades, principalmente em países pobres e em desenvolvimento, são bastante vulneráveis aos fenômenos climáticos, como ciclones, temporais, estiagens, aumento do nível dos oceanos, etc. Estas ocorrências comprometem a infraestrutura urbana - energia, transportes, saúde, segurança - dificultando a vida da população, principalmente das grandes metrópoles. Alagamentos e deslizamentos de terra, com destruição de moradias e às vezes de vidas, afetam as populações de baixa renda que habitam áreas de risco ou de infraestrutura precária. Assim, os mais afetados pelos fenômenos climáticos são os que têm pouco, e mesmo isto acabam perdendo. Estas condições aumentam a pobreza e a vulnerabilidade destas pessoas.
Por isso é premente que as cidades se preparem para estes acontecimentos, já presentes em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Para isso, necessitamos de um planejamento urbano adequado, formado por três aspectos principais: 1) Regras e regulamentos, ou seja, normas e legislação adequada para regulamentar a ocupação e as atividades no espaço urbano; 2) Planejamento e modelos adequados para a organização da cidade, em suas diversas regiões e épocas; e 3) Finanças municipais, o aspecto mais importante para que uma cidade possa seguir o planejamento respeitando os regulamentos. No Brasil temos grandes dificuldades em respeitar regras, seguir planos e administrar finanças, mas precisamos mudar urgentemente esta cultura política.
(Imagens: fotografias de François Kollar) 

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