"O livre arbítrio" de Arthur Schopenhauer

terça-feira, 4 de agosto de 2015
"Os grandes sistemas, historicamente mobilizadores, entraram em falência. Depois do comunismo, é o capitalismo que passou a não mais produzir sentido e, mais que isso, valorizar o futuro. Este último não é mais definido como uma promessa, e sim como um perigo."  Jean-Claude Guillebaud  -  A vida viva - Contra as novas dominações

Schopenhauer começa sua obra com as definições para iniciar depois as discussões.
I Que se entende por liberdade
Schopenhauer considera o conceito de liberdade sob 3 aspectos: liberdade física, a liberdade intelectual e a liberdade moral.
1º A liberdade física consiste na ausência de qualquer obstáculo de ordem material. Dizem que os homens ou animais são livres, quando nenhum impedimento físico ou material constranja suas ações, podendo eles obedecer à própria vontade.
2º A liberdade intelectual está mais próxima da liberdade física que a liberdade moral
3º A liberdade moral, equivalente ao livre arbítrio: o livre arbítrio é a potência ou possibilidade de querer. No entanto o autor também coloca em discussão este ponto, perguntando “e podes também querer o que queres?” (pág. 34). Por fim chega ao conceito de que a liberdade é ausência de toda a necessidade.
Mas o que é necessidade? O autor define como necessidade a consequência de uma razão dada. Deste modo, o autor chega a definição de liberdade como aquilo que não é necessário sob relação alguma, o que independe de toda razão suficiente. Em termos humanos, isto indicaria uma vontade individual, que nas manifestações externas não é determinada por nenhum motivo nem razões de qualquer espécie. Caso contrário, a razão não seria mais livre, mas constrangida por necessidade. A vontade livre não é determinada por nada.
II Que se entende por consciência?
A consciência é a percepção do “eu” em oposição aos objetos exteriores. O objeto principal da consciência é a vontade – aqui entendida como relação com os objetos do mundo exterior.
A vontade diante da consciência
Schopenhauer pergunta o que é querer qualquer coisa? A volição é produzida pela consciência sob influência de algum objeto externo. O autor argumenta que a volição é livre, de modo que ele (autor) “pode agir conforme (sua) vontade”. Mas analisando o livre arbítrio, Schopenhauer diz que a questão é fazer as pessoas compreenderem que não se trata de entenderem as consequências de suas vontades (que, segundo uma análise superficial, “provariam” a liberdade da vontade), mas sim, as razões e as causas de sua volição ou vontades. (Aqui, Freud, que estudou Schopenhauer, deve ter encontrado uma base para desenvolver sua teoria do inconsciente).
A questão que Schopenhauer coloca é a “liberdade de vontade”. Existe esta liberdade? Podemos realmente “querer o que queremos”?


A resposta que o autor dá a estas questões é que “a vontade do homem não é outra senão o seu eu propriamente dito, o verdadeiro núcleo do seu ser: e é ela (a vontade) que constitui o próprio fundo da consciência, como uma espécie de substractum imutável e sempre presente, do qual não consegue libertar-se para proceder de forma diversa” (este raciocínio  também deve ter ajudado Freud a desenvolver sua teoria do inconsciente). Schopenhauer, em outra passagem, sintetiza este pensamento na seguinte frase: “Podes, em verdade, fazer o que queres; mas em cada determinado momento de tua existência não poder querer uma coisa precisa e uma só, com exclusão de qualquer outra” (pág. 59).


Vontade diante da percepção exterior

O princípio de causalidade nos é conhecido a priori, como regra geral a que estão submetidos todos os objetos reais do mundo exterior. Quando qualquer objeto sofre uma modificação, podemos corrigir-lhe as causas.

A lei da causalidade existe em 3 aspectos: 1) como causalidade em si, como se observa a natureza, nos processos físicos e químicos; 2) na forma de excitação, onde não existe uma proporção entre causa e efeito, ação e reação; e 3) a motivação, onde qualidades biológicas e não somente físico-químicas, também tem um papel preponderante.
As noções de causa e efeito aplicam-se, segundo Schopenhauer, ao mundo inanimado, regido pelas leis da física e da química e ao mundo animado, regido pelas regras da biologia e do pensamento. O autor faz uma análise da noção de causa e efeito no mundo animal, para por fim chegar às condições do mundo humano. Aqui, Schopenhauer pretende provar, mais uma vez, a conclusão anterior, ou seja: podemos fazer o que queremos, mas não podemos querer o que quisermos, já que estamos condicionados por uma série de condições sobre as quais não temos controle. O autor argumenta que o caráter do homem é invariável, permanece durante toda a sua vida. Cita exemplos de comportamentos que no desenrolar da vida não mudaram. Também argumenta que o caráter individual é inato, sendo “obra da natureza” (hereditário).
Ao longo do livro Schopenhauer cita vários exemplos e testemunhos que visam provar que o homem não tem controle sobre sua vontade, já que esta é obra da natureza e de condicionamentos havidos durante a vida do indivíduo.
Capítulo quarto – condução e consideração mais elevada.
Schopenhauer conclui dizendo que a liberdade não pode existir na ação, mas no ser e “é por meio do que fazemos que reconhecemos a nós mesmos e aquilo que somos (pág.122). Schopenhauer conclui que todo homem apenas faz o que deseja e, portanto, age sempre de modo necessário.
(Imagens: pinturas de Edward Munch)

5 comments:

Carlão disse...

BOAS MATERIAS

Unknown disse...

Excelente resenha

Evandro disse...

Parabéns! Conseguiu resumir muito bem o livro.

moloco disse...

Ok acho tenho uma divergência em relação a ação e liberdade citada no resumo do 4º capítulo, mais isso é só despareamento entre eu e o autor, do mais excelente resumo.

Caio Moreira disse...

Excelente síntese, colocou muito bem, obrigado

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