O
Brasil, assim como todos os outros países, encontra-se em meio a uma pandemia
virótica. No momento em que escrevemos este artigo, mais de 28,7 milhões de
pessoas já foram infectadas em todo o mundo, com 922 mil mortes. No Brasil há,
até o momento, aproximadamente 4,3 milhões de casos e ocorreram cerca de 131
mil mortes.
As
estratégias de combate à pandemia são basicamente as mesmas em todos os lugares, seguindo padrões
(atualmente costuma-se falar em protocolos) já estabelecido pelas organizações
para enfrentar outras surtos passados. Isolamento social, principalmente
para grupos de risco, uso de proteção das vias respiratórias (máscaras) e muita
higiene pessoal – especialmente a lavagem das mãos. Essas medidas, se bem
aplicadas, podem ser bastante eficientes para manter a pandemia sob controle
até que ela diminua. Adicionalmente, outra precaução fortemente recomendada pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), foi a testagem e o isolamento de pessoas
contaminadas, e de todas aquelas com as quais estas tiveram contato. Tal providência foi bastante efetiva na China, onde a pandemia teve início e foi eficientemente
controlada, na Alemanha, na Coréia do Sul, Taiwan e Singapura.
Já
países como a Inglaterra, os Estados Unidos, a Suécia e o Brasil, cujos
dirigentes primeiramente negaram ou relativizaram a gravidade do surto virótico,
não implantando medidas de isolamento e não testando suas
populações, atingiram um alto número de infectados. As medidas profiláticas implantadas em uma fase avançada de disseminação
da doença entre a população, tiveram um efeito reduzido.
A
maneira de como governos atuaram no combate à doença até agora, tem muito a ver
com seus regimes políticos, a situação de suas economias, a reação de seus
dirigentes empresariais, de seus médicos e até da própria índole de seus
dirigentes. Personalidades autocráticas na forma de governar, líderes
como Trump, Bolsonaro e Orbán, tentaram de início conduzir o combate da
pandemia de forma personalista, pouco ou nada atentando para os conselhos de
especialistas e às informações da ciência. São dessa fase as declarações de que
“o vírus não é perigoso e desaparecerá sozinho” (Trump) e “que se trata apenas
de uma gripezinha” (Bolsonaro). Num fase seguinte do surto, ambos passaram a
insistir no uso de medicamentos sem efeito terapêutico algum, ou podendo causar
até efeitos colaterais, como no caso da cloroquina. Trump chegou até a sugerir
a ingestão de desinfetante no combate à doença.
Os
fatos se precipitaram, o número de casos e de mortes aumentou exponencialmente,
e durante esse processo Trump teve vários atritos com especialistas
responsáveis pela condução da crise. No Brasil, o ministério da Saúde foi
sucessivamente ocupado por dois médicos, dos quais o primeiro foi demitido e o
segundo pediu demissão. O substituto temporário ainda continua sendo um
general, especialista na área de intendência, sem conhecimentos médicos ou de pandemias. Nos próximos dias, o general será empossado como ministro da Saúde em definitivo.
A
partir de setembro os números de casos de infecção pelo coronavírus está caindo
no Brasil. Em outros países da Europa, parece estar começando uma segunda onda
de contaminação, depois que parte das atividades econômicas começaram a ser
retomadas.
A
gradual normalização da situação, seja em seus aspectos políticos, econômicos,
sociais e médicos, só virá com a disponibilidade de uma vacina. Mas, mesmo
sobre este tema ainda pairam dúvidas, o que dá margem a muita desinformação e
circulação de notícias falsas. Não se sabe ainda, por exemplo, quando a vacina
estará disponível. Os mais otimistas já preveem possibilidades de imunização a
partir de dezembro de 2020, outros durante o primeiro trimestre de 2021 e os
mais pessimistas somente mais tarde. Também existem os grupos que dizem confiar
somente na vacina de certo país ou empresa, como se para qualquer vacina não
fosse mandatória a fase de testes, durante os quais é preciso atingir certos padrões de efetividade. Outros, querendo ser
mais originais ainda, dizem que, seguindo as afirmações do presidente, “ninguém
é obrigado a tomar vacina” e que não tomarão a vacina. Enfim, falta de informação,
ausência de diretrizes, que deveriam ser estabelecidas pelo órgãos competentes,
entre outras coisas.
Esta
não foi a primeira e não será a última pandemia a afetar a humanidade.
Cientistas já anteveem a chegada de novas pandemias viróticas, inevitáveis,
segundo eles, dada a invasão e destruição de áreas selvagens remanescentes,
forçando microrganismos a procurarem novos hospedeiros – animais domésticos, de
abate e humanos.
Uma
das lições que mais uma vez se confirma é que o desenvolvimento social e
político não é uma constante na história humana; princípio válido também para a nossa Civilização
Ocidental. Povos e nações podem
retroceder à ignorância, à credulidade e ao fanatismo em pouco tempo. Já vimos
isso no século XX e novamente agora, quando se repetem as
estratégias de grupos que apostam na desinformação e no embrutecimento, tirando
das pessoas sua capacidade de analisar os fatos com racionalidade e bom senso. A história não se repete, mas os impulsos dos grupos humanos, animais que somos, têm certa previsibilidade.
(Imagens: pinturas de Heinrich Stegemann)
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