João Ubaldo Ribeiro (1941-2014)

domingo, 26 de março de 2023

 

(Imagem: VEJA)


João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu em Itaparica (BA) em 23 de janeiro de 1941 e faleceu em 18 de julho de 2014. Foi escritor, jornalista, tradutor, professor e membro da Academia Brasileira de Letras. 

Nascido na Bahia na casa do avô materno, quando completou dois meses de idade a família mudou-se para AracajuSergipe, onde passou parte da infância. Seu pai, Manuel Ribeiro, advogado de renome na capital baiana, veio a ser o fundador e diretor do curso de Direito da Universidade Católica de Salvador. Sua mãe Maria Filipa Osório Pimentel deu à luz mais dois filhos: Sônia Maria e Manuel.

Seu pai, por ser professor, não suportava a ideia de ter um filho analfabeto e iniciou seu filho nos estudos com um professor particular, em 1947. Alfabetizado, ingressou no Instituto Ipiranga em 1948. Leu muitos livros infantis, principalmente a obra de Monteiro Lobato. Ao mesmo tempo o pai fez o menino se empenhar intensamente nos estudos, lendo autores como Padre Antônio Vieira, Padre Manuel Bernardes, Shakespeare, Homero, Miguel de Cervantes, Machado de Assis e José de Alencar; autores que exerceram grande influência em João Ubaldo.

Em 1951 ingressou no Colégio Estadual Atheneu Sergipense, em Aracaju. Prestava ao pai, diariamente, contas sobre os textos que havia lido e algumas vezes era obrigado a resumi-los e traduzir alguns de seus trechos. Afirma ter feito essas tarefas com prazer e, nas férias, estudava também o latim. Seu pai era chefe da Polícia Militar, e nessa época, passa a sofrer pressões políticas, o que o faz transferir-se com a família para Salvador. Na capital baiana João Ubaldo é matriculado no Colégio Sofia Costa Pinto. Em 1955 matriculou-se no curso clássico do Colégio da Bahia, conhecido como Colégio Central, onde conheceu seu colega Glauber Rocha. Em 1958 iniciou seu Curso de Direito na Universidade Federal da Bahia, que concluiria em 1962. Em 1959, entrou para o curso do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Exército no CPOR da Bahia, mas não chegou a completá-lo.

Em 1957 estreia no jornalismo, trabalhando como repórter no “Jornal da Bahia”, sendo depois transferido para a “Tribuna da Bahia”, no qual chegaria a exercer o posto de editor-chefe. Com o futuro cineasta Glauber Rocha, editou revistas e jornais culturais, participando do movimento estudantil (1958). Apesar de nunca ter exercido a profissão de advogado, foi aluno exemplar. Nessa mesma Universidade, concluído o curso de Direito, faz pós-graduação em Administração Pública.

João Ubaldo Ribeiro colaborou nos editais “O Globo”, “Frankfurter Rundschau” (na Alemanha), “Jornal da Bahia”, “Die Zeit (Alemanha), “The Times Literary Supplement” (Inglaterra), “O Jornal” (Portugal), “Jornal de Letras” (Portugal), “O Estado de S. Paulo”, “A Tarde” e muitos outros, exteriores e nacionais.

João passou boa parte de sua vida no exterior, em países como nos Estados Unidos (como estudante e, posteriormente, como professor convidado), em Portugal (editando em parceria com o jornalista Tarso de Castro a revista “Careta”) e na Alemanha (publicando crônicas semanais para o jornal “Frankfurter Rundschau”, além de produzir peças para o rádio). Em 1964 partiu para os Estados Unidos, através de uma bolsa de estudos oferecida pelo governo daquele país, para cursar mestrado em Administração Pública e Ciência Política na Universidade da Califórnia do Sul.

Retorna ao Brasil em 1965 e começa a lecionar Ciências Políticas na Universidade Federal da Bahia. Lá permaneceu por seis anos, mas desiste da carreira acadêmica e retorna ao jornalismo. Participou, em Cuba, do júri do concurso Casa das Américas, juntamente com o critico literário Antônio Cândido e o ator e dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri. Voltou a residir no Rio de Janeiro em 1991 e, em 1994, é eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Participou no mesmo ano da Feira do Livro de Frankfurt, Alemanha, recebendo o Prêmio Anna Seghers, concedido somente a escritores alemães e latino-americanos.

Em 1969 casou-se com a historiadora Mônica Maria Rotes, com quem teve duas filhas. Em 1980, casa-se com a fisioterapeuta Berenice de Carvalho Batella, com quem teve um casal de filhos. João Ubaldo morre na madrugada do dia 18 de julho de 2014 em sua casa, no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro.

 

Carreira literária

Em 1959 participou da antologia Panorama do Conto Baiano, com o conto Lugar e Circunstância; a antologia é publicada pela Imprensa Oficial da Bahia. Em 1961, participa da coletânea de contos Reunião, editada pela Universidade Federal da Bahia, com os contos Josefina, Decalião e O Campeão.

Em 1963 escreveu seu primeiro romance, Setembro Não Faz Sentido, com prefácio do colega Glauber Rocha e apadrinhamento de Jorge Amado. O título original seria A Semana da Pátria, mas por sugestão da editora, João alterou o título. A Editora Civilização Brasileira lança, em 1971, o romance Sargento Getúlio, com o qual ganhou o Prêmio Jabuti de 1972 concedido pela Câmara Brasileira do Livro, na categoria "Revelação de Autor".

Em 1974 publica o livro de contos Vencecavalo e o outro povo, cujo título inicial era A guerra dos Pananaguás, pela Editora Artenova. Com tradução feita pelo próprio autor, vários romances tornaram-se famosos no exterior, entre eles o Sargento Getúlio que, lançado nos Estados Unidos em 1978, ganhou receptividade pela crítica do país. Em 1981 muda-se para LisboaPortugal e, voltando ao Brasil, publica Política - livro ainda adotado em faculdades e Livro de histórias, reeditado em 1991, que passa a incluir os contos Patrocinando a arte e O estouro da boiada, e recebe o novo título de Já podeis da pátria filhos. Nesse mesmo ano, inicia colaboração no jornal “O Globo”. Sua produção jornalística dessa época foi reunida em 1988 no livro Sempre aos Domingos.

Em 1982 inicia o romance Viva o Povo Brasileiro (intitulado primeiramente como Alto lá, meu general). Nesse ano, participou do Festival Internacional de Escritores, em TorontoCanadáViva o povo Brasileiro é finalmente editado em 1984, e recebe o Prêmio Jabuti na categoria "Romance" e o Golfinho de Ouro, do Governo do Rio de Janeiro. Em 1983, estreia na literatura infanto-juvenil com o livro Vida e paixão de Pandonar, o cruel. Em 1989 lança o romance O sorriso do lagarto. Sua segunda experiência na literatura infanto-juvenil apresenta-se em 1990 com o livro A Vingança de Charles Tiburone.

Neste ano João participa do já citado “Frankfurter Rundschau” e, retornando em 1991 ao país de origem, hospeda-se no Rio de Janeiro. Em 1994 lança o livro de crônicas Um brasileiro em Berlim, sobre sua estada na cidade. Publica, em 1997, o romance O feitiço da Ilha do Pavão, pela Editora Nova Fronteira. No mesmo ano, antes da publicação deste romance, Em 2000, saíram várias reedições de seus livros na Alemanha, incluindo uma nova edição de bolso de Sargento GetúlioO sorriso do lagarto foi publicado na França. A casa dos Budas ditosos foi traduzido para o inglês, nos Estados Unidos. Viva o povo brasileiro foi indicado para o exame de Agrégation, um concurso nacional realizado na França para os detentores de diploma de graduação.

Seu livro Sargento Getúlio tornou-se um filme premiado em 1983, dirigido por Hermano Penna e protagonizado por Lima Duarte (Sargento Getúlio (filme)). Quando voltou a residir no Rio de Janeiro em 1991, voltando do exterior, seu romance O sorriso do lagarto foi adaptado para uma minissérie na Rede Globo, tendo como protagonistas os atores Tony RamosMaitê Proença e José Lewgoy. Em 1993 João Ubaldo adaptou O santo que não acreditava em Deus para a série Caso Especial, da Rede Globo, que teve Lima Duarte no papel principal.

 

João Ubaldo publicou os seguintes livros

Setembro Não Tem Sentido, romance, 1968; Sargento Getúlio, romance, 1971; Vence Cavalo e o Outro Povo, conto, 1974; Vila Real, romance, 1979; Livro de Histórias, conto, 1981; Política: Quem Manda, Porque Manda, Como Manda, ensaio, 1981; A Vida a Paixão de Pondonar, o Cruel, literatura infantil, 1983; Viva o Povo Brasileiro, romance, 1984; Sempre aos Domingos, crônica, 1988; O Sorriso do Lagarto, romance, 1989; A Vingança de Charles Tiburane, infanto juvenil, 1990; Um Brasileiro em Berlim, crônica, 1995; O Feitiço da Ilha do Pavão, romance, 1997; Arte e Ciência de Roubar Galinhas, crônica, 1999; A Casa dos Budas Ditosos, romance, 1999; Miséria e Grandeza do Amor de Benedita, romance, 2000; O Conselheiro Come, crônica, 2000; Dia do Farol, romance, 2002; A Gente se Acostuma a Tudo, crônica, 2006; O Rei da Noite, crônica, 2008; O Albatroz Azul, romance, 2009; Dez Bons Conselhos de Meu Pai, infanto juvenil, 2011.

 

Frase de João Ubaldo Ribeiro

A vida devia ser duas; uma para ensaiar, outra para viver a sério. Quando se aprende alguma coisa, está na hora de ir.”;

Ah, como passam as coisas deste mundo, nada do que se constrói é perene, nada do que se faz é bem lembrado além de seu tempinho, nada fica como está, nunca se volta, nunca se volta.”;

O segredo da Verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias.”;

Sou realista. Eu não creio mais no futuro da humanidade como espécie. As evidências estão começando a se acumular. Furacão no Brasilciclone, esse tempo que está fazendo, o derretimento das calotas polares. A humanidade é uma espécie estúpida que se mata desde as cavernas. Só que, agora, com técnicas mais eficientes. Não acredito na sobrevivência da humanidade, por consequência, não acredito na sobrevivência do Brasil.”;

"Jogar ovostomates e tortas na cara de autoridades e pomposos variados é comportamento relativamente comum nas democracias mais consolidadas, com exceção da americana, onde o pessoal prefere dar tiro mesmo".

Ah, Senhor, os dias correm vagarosos como caramujos, os anos não perduram mais que uma fagulha, o passado não acaba nunca.”.

 

 

(Fontes: Wikipedia; eBiografia – Dilva Frazão; Site da Academia Brasileira de Letras; site Globo Memória; Wikiquote; Site Pensador; Revista Isto É)

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