Leituras diárias

segunda-feira, 27 de março de 2023


 

“O que a ciência apresentou no século XX pode ser visto como uma imensa renovação do antigo movimento copernicano, envolvendo agora a estrutura dos próprios conceitos com os quais tentamos compreender a realidade – o que estamos chamando, simplificadamente, de “dialeto newtoniano”. Dito de modo mais incisivo: os conceitos convencionais de descrição da realidade não devem ser considerados universais. Essa questão transcende o território restrito e limitado do conhecimento técnico gerado pela física. Derrama-se, de fato, sobre toda nossa construção racional do mundo. Entretanto, para a maioria dos cientistas, a alternativa que está sendo sugerida – a descrição do mundo por meio de um novo dialeto não newtoniano – ainda aparece hoje como uma alucinação, um possível retrocesso a uma era não científica, com revalorização do transcendental. Não se trata disso. A razão desta reação deve ser procurada no ‘orgulho da espécie’, em que habita nosso profundo narcisismo.

Na história da humanidade nos tempos modernos, Freud identificou três grandes alterações, produzidas pela ciência, que diminuíram dramaticamente o orgulho da espécie, com consequências profundas em nossa visão do mundo. São elas: 1. A perda do “centro do mundo”, graças a Copérnico: a Terra se move em volta do Sol; 2. A perda da “formação divina do homem”, graças a Darwin: as espécies se modificam; 3. A perda da crença no poder completo da “razão”, graças a Freud: nossos pensamentos têm raízes no irracional. Talvez devamos acrescentar uma quarta dificuldade: a não universalidade do modo de descrever a natureza.” (Novello, págs. 25 e 26)

 

Mario Novello, Quantum e Cosmos: introdução à metacosmologia

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