Edmundo Moniz (1911-1997)

domingo, 25 de junho de 2023

 



Edmundo Moniz nasceu em Salvador, na Bahia, em 2 de novembro de 1911 e faleceu no Rio de Janeiro em 1997. Moniz foi jornalista, escritor e pensador trotskista brasileiro.

Edmundo Moniz era filho do ex-governador da Bahia Antônio Muniz Sodré de Aragão. Pertencia à família Moniz, linhagem tradicional que possui diversos membros inseridos na vida política, jurídica e artística brasileira. Alguns dos seus parentes são Alberto Moniz da Rocha Barros, Luiz Alberto Moniz Bandeira e Niomar Moniz Sodré Bittencourt.

Edmundo Moniz passou toda a sua vida pregando a igualdade entre os povos  brasileiros, da América Latina, e as sofridas populações do Terceiro Mundo. Já aos 19 anos ingressara nos movimentos estudantis, organizando o 1º Congresso Operário-Estudantil – uma espécie de precursor da Aliança Nacional Libertadora, de 1935. A organização era formada por Jorge Amado e Carlos Lacerda.

Forma-se em Direito pela Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Lá, em 1929, começou a trabalhar nas publicações "A Esquerda" e "A Batalha". Atuava na redação, reportagem e, inclusive, administração, sempre sob a direção de Leônidas Resende. Logo em seguida, foi colaborador do "Diário da Bahia" e, em 1940, ingressou no "Correio da Manhã", participando, ao mesmo tempo, das revistas "Carioca" e "Vamos Ler", ambas da empresa "A Noite".

Entre 1945 e 1946, participa da redação do jornal “Vanguarda Socialista”, na companhia da escritora Patrícia Galvão, do escritor e crítico literário Geraldo Ferraz, do crítico de arte Mário Pedrosa e do jornalista e tradutor Hilcar Leite.Moniz. Em 1964, foi redator-chefe do "Correio da Manhã", cargo que cumpre até 1966, também atuando com professor de Filosofia e História. No mesmo período também participa das atividades do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Em 1968, pressionado pela ditadura civil-militar que se implantara no Brasil em 1964, Moniz teve que se exilar, através da embaixada do México no Rio, passando pela Argélia e cumprindo exílio em Paris.

Como pensador e ativista de esquerda, Moniz tinha ligações com a IV Internacional e o grupo de Mário Pedrosa. Publica 15 livros, muitos deles sobre a Guerra de Canudos, que analisa aplicando aos acontecimentos a “lei do desenvolvimento  desigual e combinado” (ocorrência simultânea de aspectos avançados e atrasados no processo de desenvolvimento econômico dos países), elaborada pelo teórico e revolucionário marxista russo Leon Trotski.

A sua aproximação com o trotskismo deu-se permeada pela relação que cultivou com Rodolfo Coutinho, um quadro do Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro no qual Edmundo atuava enquanto era estudante de Direito na Universidade do Brasil no Rio de Janeiro. Logo depois, aproximou-se de Mario Pedrosa, com quem estabeleceu amizade e realizou alguns projetos. Ambos estiveram envolvidos no debate e na divulgação sobre as conexões entre surrealismo e marxismo. Com esse interesse, publicaram no  “Vanguarda Socialista” em 1946 o manifesto, “Por uma arte revolucionária independente”, que Leon Trotsky e André Breton tinham redigido no México no final da década de 1930 como uma resposta a imposição soviética do realismo socialista.

Moniz também foi diretor do extinto Serviço Nacional de Teatro (SNT), durante a presidência de Juscelino Kubitschek e João Goulart, trabalhando com o crítico de teatro e teórico Sábato Magaldi, representante do órgão em São Paulo

Integrou a redação do “Jornal Correio da Manhã”, junto com expoentes do jornalismo e da literatura brasileira como Antônio CalladoPaulo FrancisOtto Maria CarpeauxHermano AlvesCarlos Heitor Cony e Márcio Moreira Alves, tendo participado da redação dos polêmicos editoriais de 31 Março e 10 de Abril de 1964; respectivamente: “Basta!” e “Fora!”, publicados no Correio da Manhã na antessala do golpe de 1964 e que pediam a renúncia do presidente João Goulart.

Retornando de seu exílio em 1976, filiou-se ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), legenda que seu sobrinho, Luiz Alberto Moniz Bandeira, ajudou a fundar e estava plenamente envolvido. Durante o primeiro mandato de Leonel Brizola como governador do Estado do Rio de Janeiro, Edmundo assumiu como Subsecretário da Cultura na secretaria de Darcy Ribeiro, ficando no cargo de  1983 a 1986. Após essa passagem no serviço público, Edmundo teve uma vida mais reclusa. Tentou, sem êxito, ingressar na Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1992, em disputando a vaga com seu antigo chefe Darcy Ribeiro. 

Edmundo Moniz faleceu no Rio de Janeiro, em 23 de janeiro de 1997.

Obras

As Mulheres Proibidas - o Incesto em Eça de Queiroz, José Olympio, 1993; A Originalidade das Revoluções, Espaço e Tempo, 1987; O Golpe de Abril. Civilização Brasileira, 1965; O Espírito das Épocas. Dialética da Ficção, Elo, 1994 (1950); Canudos A Luta Pela Terra. Ed. Gaia / Global, 2001; A Guerra Social de Canudos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. Rio de Janeiro: Elo, 1987; D.João e o Surrealismo. Mec, 1960; Teatro. Branca de Neve. A Vila de Prata. Egléia. Livraria São José, 1960; Francisco Alves de Oliveira (Livreiro e Autor). RJ: Academia Brasileira de Letras, 2009; A Lei de Seguranca Nacional e a Justica Militar. Editora: Codecri, 1984; Trotski, Leon. Da Noruega ao México: Memórias. Rio de Janeiro: Epasa, [s.d.]. 486 p. (Tradução de Edmundo Moniz); Bertolt Brecht Antologia Poética / o Processo de Lucullus. Elo,1982 (trecho em Bertolt Brecht – Uma Breve Biografia (1898-1956)) (Tradução de Edmundo Moniz); Poemas da Liberdade uma Antologia Poética de Dante a Brecht. Civilização Brasileira, 1967; Surrealismo e política. In: FACIOLI, Valentin (Org.). Breton-Trotsky: Por uma arte revolucionária independente. São Paulo: Paz e Terra; Cemap, 1985

 

Frases de Edmundo Moniz

A historiografia oficial procura sempre diminuir o papel dos lideres populares quando eles desagradam as classes possuidoras.”

A republica constituiu, para país um progresso econômico, social e político, mas não atendeu aos interesses dos camponeses, desde que os conservava na mesma situação em que viviam na monarquia.”

Destruída a cidade, começou então a matança dos remanescentes de Canudos, mesmo daqueles que as autoridades militares se comprometeram formalmente a poupar a vida quando aceitaram a rendição. Antes do término da guerra, já se estabelecera a gravata vermelha que significava o degolamento dos sertanejos aprisionados. Agora, porém, a matança era em massa, sendo degolados.”

Machado de Assis compreendeu melhor a personalidade de Antônio Conselheiro e o significado de seu movimento do que a maioria de seus contemporâneos.”

Se a republica iniciasse a reforma agrária não haveria Canudos. Antônio Conselheiro, na realidade, não era um anti-republicano, porque seu movimento antecedia a republica. Desde 1874 Antônio ConseIheiro percorria o sertão  pregando nas aldeias. Foi durante a monarquia que o prenderam e o espancaram duramente. Seu movimento de tendência socialista estava além da monarquia e da republica.

A imagem de Antônio ConseIheiro, mais viva do que nunca, permanece como a grande ameaça que pesou sobre os grandes proprietários territoriais. Os sertanejos o recordam esperançosamente, como se ele estivesse para ressurgir com sua túnica azul e seu cajado, em frente dos camponeses em armas.” 

 

 

(Fontes consultadas: Wikipedia; Site do Dicionário biográfico de Las izquierdas latino-americanas; Site Pátria Latina; Livro “Canudos: A luta pela terra”).

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