Outras leituras

segunda-feira, 28 de abril de 2025


 

“Obediência e docilidade são induzidas hoje através dos hábitos cotidianos de consumo e comunicação. O sujeito contemporâneo é um sujeito constantemente distraído. Muito foi escrito sobre os efeitos chocantes e desorientadores das informações e imagens supérfluas com as quais somos sobrecarregados hoje, e a dissonância cognitiva e infelicidade subjetiva produzida por nossa total imersão nos circuitos do capitalismo comunicativo. Sofremos de um tipo de transtorno de déficit de atenção tecnologicamente induzido. Não apenas somos sobreestimulados pela constante ativação semiótica, através de tecnologias comunicativas invasivas e onipresentes – além dos limites do que nosso organismo pode suportar (Berardi, 2009) – mas também, somos atraídos, por meio da participação em mídias sociais e blogs, para circuitos de gozo capitalístico acompanhado por redes de vigilância.” (Newman, pág. 46). 

“O que também podemos tirar disso é o poder potencial que reside em uma atitude ascética em relação à vida. Embora essa possa ser uma atitude imposta a muitos de nós pela necessidade econômica, pode, no entanto, formar a base de uma nova sensibilidade e ethos. Um novo modo de subjetividade, para o qual se torna central a recusa de consumo desnecessário e o desejo por um modo de vida mais simples. A única maneira que podemos nos libertar, em última instância, do sistema econômico que nos escraviza – através da dívida e do trabalho sem fim e sem sentido – é deixando de desejá-lo, recusando o fetichismo da mercadoria e desinvestindo nossos desejos no modo de vida capitalista e na economia psíquica de culpa que surge com o constante endividamento. Parte disso seria repensar toda a ideologia do crescimento econômico e afirmar as prioridades da sustentabilidade humana e ecológica, até mesmo abraçando a ideia de decrescimento (décroissance). Franco Berardi fala sobre a importância da ‘lentidão’ como uma resposta ao constante imperativo capitalista de crescimento e aceleração, particularmente no contexto europeu: ‘a vindoura insurreição europeia não será uma insurreição de energia, mas uma insurreição de lentidão, afastamento e exaustão. Será a autonomização do corpo e alma coletivos com relação à exploração da velocidade e da competição.” (Newman, pág. 77). 

 

Saul Newman (1972-) professor de teoria política na Universidade de Londres, escreve sobre o pós-anarquismo. O trecho acima faz parte do livro Do anarquismo ao pós-anarquismo.

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