“A
razão crítica, materialista, cética e erudita que caracteriza o movimento
intelectual dos pensadores libertinos franceses do século XVII, em suma, se
realiza como um esforço tenaz para deixar para trás, para até mesmo denunciar,
a esfera do sagrado, excluindo-o do campo da filosofia, da história, da ação e
dos modos de vida dos homens. Portanto, o reconhecimento da naturalidade da
razão, a crítica e a denúncia da credulidade, da superstição e do fanatismo,
determinarão alguns dos temas recorrentes deste movimento: a análise
racionalista, em termos de causalidade natural, profecias e milagres; a
consideração "científica" de possessões e bruxaria; a crítica radical
do antropocentrismo e do antropomorfismo que determinam a ética e a moral
cristãs — uma crítica que desencadeará um debate virulento, principalmente
sobre a imortalidade da alma e a inteligência dos animais. A ruptura radical
libertina com a concepção teológica e teleológica do cristianismo pode levar a
um certo deísmo, mas também a um ateísmo materialista, ou a um ceticismo
radical capaz de confrontar qualquer edifício dogmático que lhe seja proposto.”
Pedro Lomba, filósofo espanhol contemporâneo em Antología de textos libertinos franceses del siglo XVII


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