Terceiro governo Lula e a agenda sustentável

sábado, 28 de janeiro de 2023

 

"Quem observa o vento jamais semeará; quem examina as nuvens nunca segará."   -   Eclesiastes, 11,4          


Depois de um hiato de praticamente dez anos, o Brasil volta a retomar sua agenda ambiental. Foi durante os dois governos do presidente Lula (2003-2011) que o Brasil teve seus maiores avanços na área ambiental. Na área da energia renovável, por exemplo, o governo Lula modificou e ampliou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas (PROINFA), criado no final do governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC).

Na área da infraestrutura o governo Lula criou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), destinando grande volume de recursos aos projetos de infraestrutura, como geração de energia, telecomunicações, transportes, beneficiando especialmente a área de saneamento; o tratamento de água e esgotos.

A proteção da floresta amazônica do Cerrado também teve importantes avanços neste período. A nível internacional, o governo assinou acordos de cooperação técnica para proteção e desenvolvimento da floresta com vários países, sendo o maior deles o Fundo Amazônia, assinado com a Noruega e a Alemanha, recentemente retomado, com previsão de investimentos de R$ 2,2 bilhões. O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia Legal (PPCDAm), lançado em 2004, contribuiu para que durante o governo Lula a taxa de desmatamento caísse em 80%.

Em 2010 o governo Lula regulamentou a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), estruturando a legislação anterior sobre o tema e ordenando a questão da gestão de resíduos urbanos, atribuindo responsabilidades aos geradores e gestores. Os avanços feitos pelos municípios nesta área foram limitados. Os cinco principais objetivos do marco legal – proteção da saúde pública; reduzir, reutilizar e reciclar; adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo; desenvolvimento de tecnologias limpas; incentivo à indústria da reciclagem – ainda estão em fase de implantação na maioria da cidades.

Em seu terceiro governo, Luís Inácio Lula da Silva encontra uma realidade na área ambiental bem diferente daquela que deixou para sua sucessora, Dilma Rousseff em 2012. Se, já devido à crise econômica iniciada em 2014, Dilma não pode fazer grandes avanços neste setor, os governo Temer, e principalmente, o governo de Bolsonaro, representaram um retrocesso. Projetos paralisados, acordos de cooperação interrompidos, órgãos de coordenação e controle ambiental desestruturados, técnicos demitidos, funcionários alocados em outras áreas, equipamentos danificados e desatualizados. O desafio agora é bem maior do que 2003, quando Lula recebeu um governo com a área ambiental estruturada e funcionando.

Com a volta de Marina Silva no ministério do Meio Ambiente, o governo pretende implantar 15 propostas elaboradas durante a campanha, para voltar a colocar a questão ambiental entre os principais temas do governo. Conta também o fato de que agora, em 2023, o meio ambiente e a preservação da floresta amazônica são temas muito mais importantes na agenda dos países, do que há 20 anos. A questão da mudanças climáticas não é mais discutida como sendo somente uma teoria; tornou-se consenso geral, fazendo-se notar na prática. Os temas aos quais, pelo menos numa primeira fase, será dada prioridade pelo governo, são (Fonte: Site Colabora, jornalista Oscar Valporto):

1. Controle do desmatamento na Amazônia e outros biomas;

2. Fortalecer os sistemas de meio ambiente, recursos e os órgãos ambientais;

3. Retomar o Acordo de Paris (metas de redução de emissões) e a Política do Clima (Plano Nacional sobre Mudança do Clima);

4. Apoiar a economia da sociobiodiveridade (povos e comunidades tradicionais com foco em atividades econômicas sustentáveis e ligadas à biodiversidade);

5. Dar destino às áreas públicas de floresta da União, priorizando povos indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais;

6. Concluir a demarcação de terras indígenas de quilombolas e outras comunidades tradicionais;

7. Ampliar e consolidar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC);

8. Restauração ecológica de áreas degradadas;

9. Cidades sustentáveis: integrar planejamento e gestão urbana à gestão ambiental e climática;

10. Proteger o sistema marino-costeiro;

11. Educação ecológica, difundindo novos conceitos, como o dos direitos dos animais;

12. Preservar e desenvolver a Amazônia retomando programas de gestão e cooperação;

13. Mercado de Carbono (negociação de créditos de carbono) como instrumento da Política Nacional do Clima;

14. Transição energética e energias limpas (renováveis);

15. Transporte com baixa emissão de carbono.

Trata-se de uma agenda ambiciosa e de lenta implantação, que no atual governo poderá apenas ser impulsionada. Para que tenha sucesso, é imprescindível que em governos futuros estas iniciativas sejam levadas avante.

O Brasil é um dos países com maior potencial de aproveitamento de seus biomas de modo sustentável, através da implantação de projetos de pesquisa (química, medicina, cosméticos), de turismo ambiental e de geração de renda (agricultura sustentável, artesanato de comunidades tradicionais). O potencial de implantação de projetos de pesquisa e produção de energias renováveis (eólica, solar, biomassa, hídrica, biogás), com a consequente geração de créditos de carbono, é outra área a ser desenvolvida, baseada no potencial ambiental do país. 


(Imagens: gravuras de Jacob Pins) 

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