Claudio Abramo (1923-1987)

domingo, 23 de julho de 2023

 


Cláudio Abramo nasceu em São Paulo em 6 de abril de 1923 e morreu na mesma cidade em 12 de agosto de 1987. Foi um dos mais destacados jornalistas brasileiros, tendo sido responsável pelas mudanças no estilo, na formatação e no conteúdo em dois dos maiores jornais brasileiros; os paulistas, “O Estado de São Paulo” (1952-1963) e a “Folha de São Paulo” (1975-1976).

Claudio foi o filho mais novo de Vincenzo Abramo e Iole Scarmagnan; era neto do anarquista italiano Bortolo Scarmagnan e fazia parte de uma família muito influente na arte, na imprensa e na política brasileira no século XX. Seus irmãos foram o gravador Lívio Abramo, os jornalistas Athos Abramo e Fúlvio Abramo, a atriz Lélia Abramo, a professora Beatriz Abramo e Mário Abramo. Claudio também foi tio de Perseu Abramo, também um jornalista da mesma cepa ideológica, que militou até sua morte no Partido dos Trabalhadores, sendo hoje nome da Fundação criada pelo PT para formar novos quadros políticos.

Foi casado com a artista plástica e chargista (a primeira mulher chargista na imprensa brasileira) de origem alemã, Hilde Weber, com quem teve um filho, Claudio Weber Abramo, que também se tornaria famoso jornalista. Mais tarde, Claudio casou-se com Radha Abramo, crítica de arte e também sua prima, com quem teve duas filhas: a socióloga Barbara Abramo e a jornalista Berenice Abramo.

Fluente em italiano, francês e inglês, Claudio na política seguia linha comunista trotskista. No entanto, seu entusiasmo pela carreira jornalística fez com que abandonasse a militância política, dedicando-se totalmente ao seu trabalho. Tinha um estilo de jornalismo conciso e imparcial, influenciado pelo jornalismo norte-americano, hoje presente na maior parte dos grandes veículos de informação brasileiros, substituindo os antigos textos longos e opinativos. Seus mestres no jornalismo foram os jornalistas Lívio Xavier, Ermínio Saccheta e Mário Pedrosa; todos ligados ao movimento da esquerda brasileira.  

Diferentemente de seus irmãos mais velhos que estudaram no Colégio Dante Alighieri (tradicional colégio da cultura italiana em São Paulo), Claudio cursou apenas o curso primário, tendo obtido o diploma ginasial, prestando um exame de Madureza, aos 46 anos de idade. Segundo declaração de Geraldo de Barros, amigo de Cláudio, "Ele (Cláudio) se orgulhava de duas coisas: ser autodidata e ter sido testamenteiro de Oswald de Andrade, de quem foi amigo.”.

Em 1945, aos 22 anos, foi um dos criadores do “Jornal de São Paulo”, dirigido pelo poeta Guilherme de Almeida. Em 1947, passa pelos “Diários Associados, e, no início de 1948, começa a colaborar com “O Estado de São Paulo.

Nos anos de 1951 e 1952, Claudio frequentou a Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS) de Paris, a convite do governo francês. Naquela cidade, morou no Hotel de L'Academia, na rua de Saint-Pères, assim como outros brasileiros, de quem viria a ser amigo: o artista plástico Geraldo de Barros, o matemático Carlos Lira e o físico Jorge Leal. Estabeleceu relação muito próxima de Mário Pedrosa, que dividia, também em Paris, um apartamento com o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes. Claudio adotou Mário Pedrosa como seu mestre no jornalismo e este era um dos poucos que podia repreender Claudio, mesmo quando este já chegava aos sessenta anos. Nesta estadia em Paris inicia namoro com Radha Abramo, que viria a ser sua segunda esposa.

Em 1953, de volta ao Brasil, assume o cargo de secretário de redação de “O Estado de S. Paulo”, tornando-se o profissional mais jovem a assumir este cargo. Ali, em colaboração com o também jornalista Giannino Carta, diretor do jornal, inicia o processo de modernização e profissionalização do veículo. Em 1962, a família Mesquita, dona do jornal, inicia um processo de aproximação dos militares que conspiravam contra o governo eleito de João Goulart. Não concordando com esta situação, Claudio, pressionado, pede demissão em 1963.

Em seguida, assessora o então ministro da Fazenda, Carvalho Pinto, que deixou o cargo no fim daquele ano. Logo depois, Claudio foi contratado para reformar o tabloide “A Nação”, mas, após demitir quase toda a redação, fechou o jornal em janeiro de 1964. Seu emprego, Claudio foi contratado por Octavio Frias de Oliveira, dono da “Folha de São Paulo”, para que começasse a trabalhar no ano seguinte como chefe de produção. No jornal, foi recebido com inamistosamente por chefias contrárias à sua contratação. Nos primeiros anos de atuação no jornal, devido a sua instabilidade financeira, pouco conseguiu fazer. Dessa forma, Claudio foi afastado da direção em 1972. Nessa época, foi perseguido pela ditadura e chegou a ser preso, em 1975, acusado de subversão.

Ao longo dos anos seguintes, Claudio volta a trabalhar na “Folha de São Paulo”, que havia mudado sua linha editorial, na companhia de outros nomes famosos da imprensa, como Paulo Francis Alberto Dines, além de intelectuais de várias correntes ideológicas para as recém-criadas páginas de opinião. Entre as mudanças estabelecidas no jornal, buscou uma primeira página mais agressiva e maior rigor na apuração das notícias, independente das pressões. Coordenou, a partir de 1978, o recém-criado conselho editorial do jornal. As reformas que implantou na Folha influenciaram os rumos do jornalismo brasileiro na década de 70.

Ao sair da “Folha”, Claudio juntou-se a Mino Carta (que também havia saído da revista “Veja” por perseguição política) para fundarem o “Jornal da República. Também esteve à frente da “Leia Livros”, publicação criada em sociedade com a editora Brasiliense em 1978. Colaborou com a revista “Senhor Vogue”, (de Luis Carta, Mino Carta e Domingo Alzugaray) de abril de 1978 a abril de 1979. Foi correspondente do jornal “Folha de São Paulo” em Londres, no período de 1980 a 1982, e em Paris, até 1984. Em 1984, assumiu a coluna “São Paulo”, na página 2 da “Folha de São Paulo”, e em novembro de 1985 retomou colaboração com a revista “Senhor”. Estas colaborações só se interromperam com seu falecimento.

Em 1985, Claudio lecionou jornalismo na pós-graduação na Universidade de São Paulo, na condição de professor “Notório saber.

Vítima de insuficiência cardíaca morreu em 14 de Agosto de 1987 aos 64 anos.

Postumamente, em 1988, publicou-se o livro A regra do jogo, reunindo artigos sobre política, literatura, impressões de viagens e um ensaio autobiográfico.

 

Frases de Claudio Abramo

 

Brasília é uma cidade curiosa, geométrica (alguém já disse que para viver ali é preciso saber resolver teoremas), hierática, burocratizada, autoritária – mas belíssima.” (Brasília à flor da pele);

Um homem é feito na infância, aperfeiçoado na adolescência e cristalizado na idade madura. Depois dos quarenta a existência humana, a não ser para os asiáticos, que têm o segredo da vida longeva e produtiva, assinala realmente uma decadência interminável, até que ela se torna insuportável: toda a razão da vida se concentra em algumas coisas muito específicas, em seres, sobretudo, e daí o conflito que se trava no interior de cada ser humano, quando aquilo que ele quis ser para duas, três ou quatro pessoas – pois é nisso que se concentra nossa vida – deixou de ser o que realmente se quis ser e parecer.” (Inventário da infância perdida);

Tive uma formação clássica humanística. Cresci numa família de revolucionários; meu avô era anarquista, todos os meus irmãos eram trotsquistas. Sou autodidata, não frequentai escola. (...) Mas li muito, desde menino, e sempre frequentei pessoas que me ajudariam intelectualmente. Minha família era formada de gente culta, que lia muito.” (Da introdução);

A burguesia brasileira não apenas é refratária a qualquer reforma, mesmo moderada (como nos mostram os trabalhos da Constituinte). Como ela quase sempre se alia aos competidores e dominadores, as multinacionais e os bancos estrangeiros, como prova a campanha desenvolvida aqui contra a ideia do ‘calote’ que iríamos passar aos credores a noção do ‘calote’ é uma noção absolutamente absurda, desde que partamos do princípio de que não devemos pagar a dívida externa porque não podemos.” (a burguesia submissa);

O jornalismo é antes de tudo e sobretudo a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter.”;

Minha ética como marceneiro é igual à minha ética como jornalista – não tenho duas.”

 

 

(Fontes: Wikipedia; Portal dos Jornalistas; Revista Imprensa – Jornalismo e Comunicação; Livro “A regra do Jogo”)

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