Leituras diárias

segunda-feira, 17 de julho de 2023


 

“A afirmação de que a religião é inata, natural ao homem, é falsa se as ideias do teísmo, isto é, da crença real em Deus, são atribuídas à religião em geral, mas perfeitamente verdadeira se a religião é entendida como nada mais do que o sentimento de dependência – o sentimento ou consciência do homem de que ele não existe e não pode existir sem que outro seja distinto dele, de que ele não deve sua existência a si mesmo. A religião, nesse sentido, está tão próxima do homem quanto a luz está dos olhos, o ar dos pulmões, a comida do estômago. Religião é levar a sério e confessar o que eu sou. Acima de tudo sou um ser que não existe sem luz, sem ar, sem água, sem terra, sem comida, um ser dependente da natureza. Essa dependência é, no animal e no homem animal, apenas uma dependência inconsciente e desconsiderada; elevá-lo à consciência, imaginá-lo, levá-lo a sério, confessá-lo é elevá-lo à religião. Assim toda a vida depende da mudança das estações; mas só o homem celebra essa mudança em concepções dramáticas, em atos festivos. Tais festivais, no entanto, que expressam e representam nada mais do que a mudança das estações ou as figuras de luz da lua, são os credos religiosos mais antigos, primeiros e reais da humanidade. O ser divino revelado na natureza nada mais é do que a própria natureza, que se revela, representa e se impõe ao homem como ser divino.” (Feuerbach, págs. 14 e 15)

 

Ludwig Feuerbach, A essência da religião (texto original consultado “The essence of religion”)

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