Leituras diárias

segunda-feira, 24 de julho de 2023


 

O povo se identificava com as chanchadas, pois, utilizando a comicidade, a paródia e, muitas vezes, o deboche, elas feriam na carne as mazelas maiores e menores da sociedade brasileira, como a falta d’água e de luz, a burocracia que emperrava o serviço público, a corrupção, a carestia, o nepotismo, o clientelismo, a malandragem ostensiva ou discreta dos políticos e dos empresários. Todas as chanchadas tinham o seu mocinho, a namorada do mocinho, o anti-herói e sua gangue, a dupla encarregada da comicidade, a feia que se apaixona por um dos cômicos, os números musicais, e, quase sempre, as inesquecíveis brigas de boate. As chanchadas faziam, a seu modo, um painel do cotidiano, que afetava (e ainda afeta) duramente a população, principalmente os mais pobres. Através das chanchadas o povo ria de sua própria desgraça, o que, talvez, fosse uma maneira de aliviar ou escarnecer o sofrimento do dia a dia. Eu me vingo – rindo. Assim eram as chanchadas.” (Aguiar, pág.62)

 

Ronaldo Conde Aguiar, Guia do Passado – Alegrias, venturas e esperanças: os anos 1950 e suas adjacências

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