Leituras diárias

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

 



“Consumir é muito mais que a simples aquisição pela qual o homem pretende inscrever-se no eterno, e por essa via, aliena-se eventualmente aos elementos de seu cenário, como fazia o Pai Goriot com suas propriedades: consumir significa antes exercer uma função que faz desfilar pela vida cotidiana um fluxo acelerado de objetos entre a fábrica e a lata de lixo, o berço e o túmulo, numa condenação necessária ao transitório, ao provisório. Ao contrário do século XIX, o objeto é perpetuamente provisório, torna-se produto, é a nova modalidade Kitsch. Constrói-se aqui um novo tipo de alienação do homem em relação a seu ambiente. Este é o quadro em que se situa o Kitsch cujos exemplos levarão a perceber suas formas e conteúdos.

Isto nos leva a distinguir dois grandes períodos no Kitsch: o primeiro está ligado à ascensão da sociedade segura de si mesma, capaz de impor suas colherinhas de café e suas pinças de açúcar nos desertos do México e nas estepes da Ásia central, sociedade simbolizada pelo grande centro comercial, ligada à manufatura, e construtora de uma arte de viver com a qual vivemos ainda hoje.

O outro período, aquele que se desenvolve diante de nós, é o Neokitsch do consumível, do objeto como produto, da densidade de elementos transitórios, simbolizada pela emergência do supermercado e do Prisunic (Preço Fixo, comparável às Lojas Americanas), que tomou conta da nossa vida (40% do comércio a varejo) e que modifica a arte de viver criando uma ‘Arte’ apenas.” (Moles, pág. 24 e 25).

 

Abraham Moles, O Kitsch

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