Leituras diárias

segunda-feira, 28 de agosto de 2023


 

“Numa colônia onde, após três séculos de ocupação, por proibição da Coroa, não havia uma única universidade ou uma tipografia, era realmente fora de propósito querer investir no futuro. A Coroa só conseguia pensar em uma providência: arrochar ainda mais os colonos para que eles, talvez de forma mágica, fizessem o ouro sair da terra. Portugal continuava com a mesma mentalidade predadora de 1500. E iria pagar caro por isso.

Quando o metal precioso começou a rarear, as debilidades do sistema de mineração ficaram evidentes.

Em 1799, ao debruçar-se sobre as causas do declínio da mineração a pedido da Coroa, Joaquim Veloso de Miranda fez um diagnóstico perfeito. Segundo ele, o negócio do ouro era calçado apenas na sorte e no trabalho bruto dos mineradores e de seus escravos. “Nenhuma arte, nenhuma indústria foram aqui jamais conhecidas. (...) Admira que no decurso de um século os [os mineradores] vindouros pouco melhorassem neste gênero de serviço”, afirmou. O que até então parecia ser um método perfeito de “fabricar” dinheiro a partir do mero esforço braçal de escravos era, na verdade, uma cilada. Quanto mais os mineradores progrediam no negócio, mais dependiam da mão de obra escrava. Mas com o esgotamento do ouro de aluvião, o quadro ficou delicado: os mineradores precisavam de um número cada vez maior de escravos — um “bem” caro, frágil e cujo mercado era controlado por oligopólios — mas, como contrapartida, obtinham cada vez menos metal precioso.” (Figueiredo, págs. 343-344)

 

 

Lucas Figueiredo, Boa Ventura!: A corrida do ouro no Brasil (1697-1810)

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