Leituras diárias

segunda-feira, 21 de agosto de 2023


 

“Um provérbio muito correto diz que ‘quem não trabalha, não come’. Mas como comem aqueles que não trabalham nem nunca trabalharam, e como trabalham aqueles que não têm meios de saciar sua fome! De onde tem de se concluir que aqueles que trabalham o fazem não apenas para si, mas também para o sustento de um exército inteiro de ociosos. Ninguém defende o argumento de que esses ociosos vivem dos esforços e ganhos de seus antepassados, porque os bens mais necessários à vida não podem ser obtidos de antemão e, uma vez consumidos, precisam ser outra vez produzidos pelos esforços dos vivos. Essa divisão desigual, no entanto, não se restringe apenas ao alimento dos corpos, mas também das mentes. Quantos talentos e gênios não têm de carregar o fardo do dia a dia porque a sorte não lhes sorriu no berço, enquanto mentes das mais limitadas esparramam-se em suas cadeiras de autoridade, ocupando cargos no poder e na ciência. Justamente os trabalhos mentais realizados pelos mais idealistas são os mais mal remunerados. Filósofos e poetas são em geral proletários de nascimento, e somente após suas mortes recebem as honras que lhes eram devidas em vida, enquanto que o trabalho apressado e superficial, industrializado e feito ao gosto das massas, é o que recompensa melhor ainda em vida. Tem-se em mente, por exemplo, os deploráveis comediantes puxados pelos cabelos das comédias de situação alemãs, que divertem apenas imbecis, e que a despeito desse fato colocam as melhores produções numa posição desfavorecida em nossos palcos, que deveriam ser instituições a servir o desenvolvimento intelectual do povo.” (Büchner, págs. 6 e 7)

 

Ludwig Büchner, Socialismo e darwinismo

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