Florestas: preservação traz lucro

terça-feira, 8 de novembro de 2011
"Só sou verdadeiramente livre quando todos os seres humanos que me cercam, homens e mulheres, são igualmente livres. A liberdade do outro, longe de ser limite ou negação da minha liberdade, é, ao contrário, sua condição necessária e sua confirmação."  -  Michael Alexandrovich Bakunin  -  Textos Anarquistas

Nos últimos meses acompanhamos várias discussões sobre o Código Florestal brasileiro. Os debates ainda devem continuar no senado, com contribuições eventuais de outras entidades da sociedade civil. De um lado, os que propõem alterações na lei, visando aumentar a área de desflorestamento e legalizar derrubadas já feitas, para uso agropecuário. De outro, grupos que se empenham na preservação da vegetação para o uso sustentável do bioma e de seus serviços naturais.
Este debate também poderia ser resumido em dois pontos de vista opostos. Um defende que é necessário preservar da melhor forma os biomas dos quais ainda dispomos, já que sua redução em pouco tempo nos trará perdas ambientais e econômicas. Os defensores da outra visão são de opinião que a área atualmente sob preservação é muito extensa e que sua redução só traria vantagens econômicas (as quais seriam evidentemente privatizadas).
Enquanto o Brasil ainda se perde neste tipo de discussão, outros países há muito descobriram o valor das florestas em pé – inclusive seu valor econômico. A Alemanha é um bom exemplo de como é possível manter extensas áreas de floresta, sem comprometer a atividade agrícola, o desenvolvimento urbano e a infraestrutura. Cerca de um terço do território alemão é ocupado por florestas e bosques, em um país com uma superfície de 357.000 km²; área equivalente ao estado do Mato Grosso do Sul (que ocupa pouco mais de 4% do território brasileiro). Nesta diminuta área vive uma população de 82 milhões de alemães, comparados aos 192 milhões de brasileiros habitando um território 24 vezes maior.
11,1 milhões de hectares de floresta cobrem a Alemanha. Para se ter uma idéia desta área, basta lembrar que os 6% remanescentes da área original da Mata Atlântica cobrem cerca de nove milhões de hectares. Com esta pouca extensão florestal – comparada aos imensos estoques vegetais que possuímos – a Alemanha desenvolve uma série de atividades econômicas, culturais e serviços ambientais. O Parque Nacional de Müritz, por exemplo, recebe todo ano meio milhão de visitantes. Em 2011, Ano Internacional das Florestas, acontecem em toda a Alemanha 5.000 eventos em áreas florestais: caminhadas, visitas guiadas, concertos e plantios de árvores.
Mas, nem só de cultura e lazer vive a floresta alemã. As matas também são locais de prática de esportes e de atividades econômicas. O setor silvicultor e madeireiro está entre os mais importantes da economia alemã, gerando 1,2 milhões de empregos e um faturamento anual de cerca de 170 bilhões de euros (cerca de 408 bilhões de reais), aproximadamente o dobro do faturamento do setor químico brasileiro em 2009 (R$ 207 bilhões). No entanto, segundo a revista “magazin-deutschland” as florestas não são superexploradas; o crescimento é maior que a colheita. Mesmo assim, o segmento das serrarias alemão congrega 46 mil empresas, empregando 350 mil pessoas. A Alemanha é também o maior fabricante de papel e papelão da Europa, reunindo 330 empresas que juntas faturam 14 bilhões de euros (cerca de 33,6 bilhões de reais).
Assim como a Alemanha, existem vários outros exemplos, mostrando que é possível manter uma atividade econômica, forte e diversificada, e ao mesmo tempo conservar a floresta em pé. Limitar a discussão ao dilema entre a floresta e a agropecuária, reflete a falta de informação em relação ao imenso potencial de nossos biomas.
(imagens: Franz Kline)

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