"Aquilo que hoje parece uma espécie de lei natural - o crescimento econômico medido pelo PIB - é radicalmente questionado pela economia ecológica. Nem sempre o crescimento é mais benéfico que custoso para a sociedade. A partir de certo ponto, o aumento da produção e do consumo pode ser antieconômico." - José Eli da Veiga - Mundo em transe - Do aquecimento global ao ecodesenvolvimento
Ao
longo de seus debates com os membros da “esquerda hegeliana” e através de suas
pesquisas de economia, Marx havia chegado à conclusão de que “não é a
consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, o seu ser
social que determina a sua consciência”. Ou seja, são as condições econômicas,
as relações de produção, que determinam os aspectos espirituais de uma
sociedade, as idéias e as instituições; a síntese do materialismo histórico. Escreve Marx no prefácio à Para a Crítica da Economia Política:
“O resultado geral a que cheguei e que, uma
vez obtido, serviu-me de fio condutor aos meus estudos, pode ser formulado em
poucas palavras: na produção social da própria vida, os homens contraem
relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de
produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento de
suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção
forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta
uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais
determinadas de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o
processo em geral da vida social, político e espiritual. Não é a consciência
dos homens que determina o seu ser, mas ao contrário, é o seu ser social que
determina sua consciência.” (Marx, 1974, p. 136).
A
descoberta de que as condições materiais de uma sociedade condicionavam a
superestrutura – a cultura, a religião, as leis, os costumes, a ciência e a
tecnologia, entre outros fatores – foi muito importante nos estudos posteriores
de Marx. A conclusão seguinte à qual chegou Marx é que aqueles que dominavam os
meios de produção – a classe dominante – sejam patrícios romanos, nobres
feudais, burgueses comerciantes ou industriais, ditavam a superestrutura,
utilizando-a para perpetuar sua situação de dominação. Em outras palavras, a
superestrutura é uma reprodução, sob certos aspectos, da infraestrutura.
Sobre esta análise dos aspectos materiais e espirituiais da sociedade, escreve Stalin: “O ser da sociedade, as condições da vida
material da sociedade, eis o que determina as suas idéias, as suas teorias, as
suas opiniões políticas, as suas instituições políticas.” (Stalin, s/d, p. 29).
Com
o desenvolvimento do capitalismo, principalmente depois da 2ª Guerra Mundial, a
complexidade das relações econômicas e sociais fez com que ficasse cada vez
mais difícil este tipo de análise. Na década de 1960 Louis Althusser, filósofo
marxista francês, ainda tentou explicar através de sua obra Aparelhos Ideológicos de Estado a
maneira como a superestrutura – os aparelhos ideológicos de Estado: a família,
a escola, a estrutura jurídica, a organização sindical, a cultura, entre outros
– era manipulada pela classe dominante.
Hoje,
no entanto a superestrutura se tornou ainda mais complexa. Em nossa moderna
sociedade de consumo, baseada nas telecomunicações e na informática, como
determinar qual será a influência destes instrumentos – a linguagem e as
imagens digitais – sobre a superestrutura? Será que efetivamente a “classe
dominante” tem real controle sobre estes meios, sobre esta superestrutura? Ainda
quanto a isso, o que nos mostraram as recentes revoluções no mundo árabe?
O
materialismo dialético de Marx é baseado na dialética de Hegel. Para este, todo
o processo do “ser” continha três “momentos”, que Marx transformou em três
“fases” do processo de perpétuo desenvolvimento da matéria e do desenrolar
histórico: a tese, a antítese e a síntese. Marx por assim dizer inverteu a
dialética hegeliana e a apontou para o mundo material, histórico. A dialética materialista
não é um processo mental (do espírito), idealista, como o via Hegel, mas um
processo inerente à natureza e ao devir histórico. Sobre este ponto escreve Henri
Lefebvre:
“O método é assim a expressão do devir
em geral e das leis universais de todo o desenvolvimento: essas leis são
abstractas em si mesmas, mas reecontram-se sob formas específicas em todos os
conteúdos concretos. O método parte do encadeamento lógico das categorias
fundamentais, encadeamento pelo qual se encontra o devir de que elas são a
expressão concentrada.” (Lefebvre,
s/d, p. 95)
Materialista,
Marx não seguia o “materialismo vulgar” (como o chamava Engels); o materialismo
mecanicista e metafísico dos iluministas franceses, da esquerda hegeliana ou de
Feuerbach, entre outros. Marx havia descoberto uma dinâmica, que se aplica aos
fatos históricos e à natureza.
O
materialismo dialético foi fortemente propagado por Friedrich Engels, em obras
como Anti-Dühring (1877) e A dialética da natureza (1870), onde deu
ao materialismo dialético um caráter filosófico, aplicando-o às várias ciências
e quase o transformando em uma metafísica disfarçada. Depois da Revolução
Russa, na União Soviética, o materialismo dialético acabou transformando-se no
“Diamat”, instrumento de análise e de
verificação da ortodoxia marxista nas ciências sociais e naturais.
Atualmente
a maioria dos filósofos não-marxistas considera o materialismo histórico e o
materialismo dialético como idéias filosóficas, com pouco ou nenhuma
fundamentação científica, comparáveis às teorias psicanalíticas de Freud.
Bibliografia:
LEFEBVRE,
HENRI. O materialismo dialético. Alfragide
(Portugal). Edições Acrópole: s/d, 160 p.
MARX,
KARL. Manuscritos Econômico-Filosóficos e
outros textos escolhidos in Os Pensadores. São Paulo. Abril Cultural: 1974,
413 p.
REALE,
GIOVANNI, ANTISERI, DARIO. História da
Filosofia Vol. III. São Paulo. Paulus Editora: 1991, 1113 p.
STALIN,
JOSEPH. Materialismo dialético e
materialismo histórico. São Paulo. Global Editora: s/d, 63 p.
(Imagens: fotografias de Jindrich Styrsky)
2 comments:
Ola, adorei o blog! Preciso de uma imagem para um trabalho destinado a filosofia na qual tenho que pinta-la e explica-la. O sr. poderia me relatar uma analise sobre essa imagem? Ou se for o caso, de qualquer outra imagem em relaçao a dialetica hegeliana e o materialismo historico. Desde ja agradeço! http://1.bp.blogspot.com/_lQOHYFJTpsw/Sj0XxN_tNsI/AAAAAAAAAR0/jeyR0_QLflg/s400/Jindrich+Styrsky.jpg
Interessante seu texto sobre o materialismo histórico e dialético.
estou realizando uma pesquisa bibliográfica sobre a temática e estou encontrando dificuldade em encontrar o livro de Lefebvre, o materialismo dialético versão em português.
Por um acaso voce teria o livro em pdf? poderia disponibilizá-lo ?
agradeceria o retorno
meu email para contato: giversongbonfim@gmail.com
att,
Giverson
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