Antonio Callado (1917-1997)

domingo, 13 de novembro de 2022

 



Antônio Callado (Antônio Carlos Callado), jornalista, romancista, biógrafo e teatrólogo, nasceu em Niterói, RJ, em 26 de janeiro de 1917, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de janeiro de 1997. Ingressou na Faculdade de Direito em 1936 e, no ano seguinte, começou a trabalhar, como repórter e cronista, em O Correio da Manhã. Iniciava aí uma carreira jornalística que lhe proporcionou muitas viagens e contato com alguns dos temas de sua obra.

Diplomou-se em Direito em 1939. Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1941, foi contratado pela BBC de Londres como redator, lá trabalhando até maio de 1947. Num período intermediário, de novembro de 1944 a outubro de 1945, trabalhou também no serviço brasileiro da Radio-Diffusion Française, em Paris (a sede do Serviço ficava nos Champs-Elysées e seu chefe era o escritor Roger Breuil). Em 1943, casou-se com a inglesa Jean M. Watson, com quem teve três filhos. Casou-se, em 1977, com a professora e jornalista Ana Arruda Callado.

Ao retornar ao Brasil voltou a trabalhar no O Correio da Manhã e também passou a colaborar em O Globo. Foi redator-chefe do Correio da Manhã de 1954 a 1960, quando foi contratado pela Enciclopédia Britânica para chefiar a seção de uma nova enciclopédia, a Barsa, publicada em 1963. Foi em seguida redator do Jornal do Brasil, que o enviou, em 1968, ao Vietnã em guerra. Em 1974 esteve como Visiting Scholar em Corpus Christi College, Universidade de Cambridge, Inglaterra. Passou o segundo semestre de 1981 lecionando, como Visiting Professor, na Columbia University, Nova York. Aposentou-se como jornalista em 1975, mas continuou a colaborar na imprensa. Em abril de 1992 tornou-se colunista da Folha de S. Paulo.

Além das atividades jornalísticas, dedicou-se sempre à literatura. Ainda jovem pôde ler, na biblioteca do pai, os autores europeus que mais tarde marcariam seu trabalho, sobretudo franceses e ingleses, como Proust e Joyce, ao lado de alguns brasileiros, como Machado de Assis e José de Alencar. Nos seus dois primeiros romances, “Assunção de Salviano” (1954) e “A madona de cedro” (1957), persiste uma nítida preocupação religiosa a informar e até mesmo a condicionar o transcurso da aventura e a temática. Mas o encontro entre o escritor e os principais temas de sua obra deu-se através do jornalismo, que o levou, além dos anos passados na Europa, a lugares como Bogotá, Washington, Xingu e Havana, que enriqueceram a sua bibliografia com livros de reportagem e obras literárias engajadas com as grandes questões de seu tempo. Entre os mais importantes, estão “Quarup” (1967), “Bar Don Juan” (1971), “Reflexos do baile” (1976), “Sempreviva” (1981), que apresentam um retrato do Brasil durante o regime militar, do ponto de vista dos opositores. Seu engajamento lhe custou duas prisões: uma em 1964, logo após o golpe militar, e outra em 1968, após o fechamento do Congresso com o AI-5.

Teatrólogo, reuniu quatro de suas peças no volume “A Revolta da Cachaça”, em 1983. Uma delas, “Pedro Mico”, encenada em muitas ocasiões, foi transformada em filme que teve como ator principal o ex-jogador de futebol Pelé. Em março de 1987 participou, em Paris, do Salon du Livre, a convite do Ministério da Cultura da França. Em novembro de 1990 representou o Brasil na semana “De Gaulle en son siècle”, comemorativa do centenário do General Charles de Gaulle.

Em 1958 recebeu, na Embaixada da Itália no Rio de Janeiro, a medalha da Ordem do Mérito da República Italiana. Em 1982 foi à Alemanha, como vencedor do Prêmio Goethe, do Goethe Institut do Rio de Janeiro, com o romance “Sempreviva”. Em setembro de 1985 recebeu, pelo conjunto de suas obras, o Prêmio Brasília de Literatura, da Fundação Cultural do Distrito Federal. Em outubro de 1985 recebeu, na Embaixada da França em Brasília, a Medalha das Artes e das Letras, das mãos do Ministro da Cultura Jack Lang; em maio de 1986, o prêmio Golfinho de Ouro, de Literatura, outorgado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro; em 1989, o troféu Juca Pato, da União Brasileira dos Escritores, por ter sido eleito “Intelectual do Ano”.

Levada ao cinema em 1989 por Ruy Guerra, a narrativa de “Quarup” transcorre entre o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, e o golpe militar de 1964. Nela, nos deparamos com Nando, um jovem padre com conflitos existenciais que busca explicações para a vida em uma viagem rumo ao Xingu para trabalhar com tribos indígenas. Por lá, além de se deparar com a natureza, também tem contato com diversos prazeres da vida, muitos deles coibidos pela igreja. Mais adiante, após a ditadura ser instaurada no país, Nando é preso por trabalhar com a alfabetização de adultos, atividade vista como subversiva pelos militares. Dos novos conflitos que isso lhe traz, ao cabo, enfim, resolve pegar em armas para lutar contra a situação que o país se encontrava.

O escritor foi um dos detidos no episódio que ficou conhecido com os “Oito do Glória”, quando uma manifestação foi armada em frente ao Hotel Glória, no Rio de Janeiro, para denunciar à OEA, que realizaria ali uma conferência em novembro de 1965, o estado ditatorial que o Brasil se encontrava.

Outra detenção aconteceu em 1978, quando retornou de uma viagem a Cuba com sua família. Passou mais de 12 horas na Polícia Federal e no Departamento de Polícia Política e Social “prestando satisfações”. A principal suspeita era que Callado estivesse trazendo “material suspeito” da ilha. “Basicamente o que eles queriam saber era: o que nós fomos fazer em Cuba? O que nós vimos? Com quem nos encontramos? Respondi que fui convidado para um concurso literário, não vimos nada demais e não mantivemos contato com nenhum marginal”, disse o escritor a jornalistas depois de ser liberado.

Entre suas principais obras, podem ser citados: Esqueleto na lagoa Verde, reportagem (1953); A assunção de Salviano, romance (1954); A cidade assassinada, teatro (1954); Frankel, teatro (1955); A madona de cedro, romance (1957); Retrato de Portinari, biografia (1957); Pedro Mico, teatro (1957); Colar de coral, teatro (1957); Os industriais da seca, reportagem (1960); O tesouro de Chica da Silva, teatro (1962); Forró no engenho cananéia, teatro (1964); Tempo de Arraes, reportagem (1965); Quarup, romance (1967); Vietnã do Norte, reportagem (1969); Bar Don Juan, romance (1971); Reflexos do baile, romance (1976); Sempreviva, romance (1981); A expedição Montaigne, romance (1982); A revolta da cachaça, teatro, reunião de 4 peças (1983); Entre o deus e a vasilha, reportagem (1985); Concerto carioca, romance (1985); Memórias de Aldenham House, romance (1989); O homem cordial e outras histórias, contos (1993).

Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 17 de março de 1994, Cadeira n. 8, na sucessão de Austregésilo de Athayde, foi recebido em 12 de julho de 1994 pelo acadêmico Antonio Houaiss. Além disso, foi membro da The Corpus Association, do Corpus Christi College, Cambridge (Inglaterra). Callado veio a falecer na cidade do Rio de Janeiro, aos 80 anos, no dia 28 de janeiro de 1997.

"Callado mexeu com o fogo e soltou os cães contra a ditadura. Quem não viveu aquela época entende pouco o impacto que 'Quarup' provocou. Publicado em plena ditadura, escrito na linguagem rigorosa de Callado, um jornalista que tinha informação e estilo, um romancista que era exigente, Callado soltou os cães, esbravejou. Falar de ditadura, repressão, tortura, assassinatos, clandestinidade, luta armada, era mexer com fogo. Podia ser preso, morto, torturado, desaparecer. O escritor desmascarou todo o sistema, juntou épocas, Getúlio, Lacerda, militares, tudo e todos, era tudo farinha do mesmo saco. A qualquer momento sua porta era arrombada e a morte entrava. Prendia-se pelo menor motivo. Sabia-se destas coisas principalmente os da mídia, mas não podiam falar". Ignácio de Loyola Brandão sobre Quarup.

 

Frases de Antonio Callado


Quando Deus nos encaminha àquilo que temos capacidade de amar com maior verdade, está nos encaminhando a ele próprio.”;

Se vais entrar dentro de ti arma-te até aos dentes.”;

Ah, o bálsamo da desgraça alheia pousando fresco sobre as nossas feridas...”;

Defesa a gente só usa contra amigos e mulher que a gente ama. Só a opinião deles é que pode alegrar ou mortificar, Manuel. A gente só entra franco e de peito aberto nos inimigos.”;

Quem opta pelo regime autoritário não tem fé nem apreço pela criação artística.”;

Faltas expiadas valem mais do que virtudes não praticadas.”.

 


(Fontes: Academia Brasileira de Letras, Cultura Niterói, Net Saber biografias, Wikipedia, PENSADOR)

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