Otto Lara Resende (1922-1992)

domingo, 6 de novembro de 2022


 

Otto Lara Resende nasceu em São João Del-Rei, Minas Gerais, no dia 1 de maio de 1922. Filho de Antônio de Lara Resende, professor de português e fundador do jornal local, e de Maria Julieta de Oliveira Resende. Fez seus estudos primário e secundário em sua cidade natal, no Colégio Padre Machado, dirigido por seu pai.

Desde criança mostrou interesse pela literatura. Aos onze anos iniciou um diário que representava importante depoimento psicológico de um adolescente. Fez suas anotações até os dezoitos anos, e conservo-o até os vinte anos, quando inexplicavelmente desapareceu. Otto escreveu também poesias, sobretudo sonetos. Quando terminou o ensino secundário, tinha pronto um volume de contos, mas não publicou.

Em 1938, transferiu-se para Belo Horizonte. Em 1940 começou a publicar artigos de crítica no periódico O Diário, ao mesmo tempo, que divulgava em suplementos locais e cariocas, poemas em prosa, sob o título de "Poemas Necessários". O jornal onde debutou na imprensa agregava escritores católicos influenciados pelo pensamento político-social de Jacques Maritain e pelo escritor George Bernanos. A ligação com o catolicismo perpassou toda a sua obra, e, como bom católico, não se furtava a fazer sua profissão de fé: “Para mim, é absolutamente fundamental que o espetáculo não termine aqui embaixo, na Terra”. Mas também era conhecido pela fina ironia. Uma de suas frases mais conhecidas era “O homem é um animal gratuito”. No entanto, a mais famosa (“O mineiro só é solidário no câncer”) ele refutava a autoria que lhe é atribuída.

Em 1941 ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Nessa época dava aulas de Português, Francês e História em um colégio de Belo Horizonte. Em 1945, Otto Lara Resende mudou-se para o Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar na imprensa, como cronista político da Constituinte de 1946. Entre os anos de 1946 a 1954 manteve intensa atividade jornalística. Trabalhou nos jornais: Última Hora, O Globo, Jornal do Brasil e na Revista Manchete, chegando a diretor da mesma. Em 1949 foi nomeado para secretário na Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Anos depois foi nomeado Procurador do Estado da Guanabara.

A amizade de Otto Lara Resende com Nelson Rodrigues levou Nelson, em meados dos anos 50, transformar Otto em personagem de suas crônicas e em título de uma de suas peças – “Bonitinha, mas Ordinária, ou Otto Lara Resende”. Até então dedicado à crítica, Lara Resende estreou na ficção, em 1952 com "O Lado Humano", seu primeiro livro de contos, sobre temas do cotidiano. Em 1957 publica "Boca do Inferno", também contos, onde aborda o universo infantil, em sete histórias nas quais é mostrada a complexidade psicológica da criança. Em 1957, Otto Lara Resende parte para Bruxelas, como Adido na Embaixada do Brasil. De volta ao Rio de Janeiro, em 1960, passa a escrever com regularidade na imprensa, desta vez, crônicas de sentido literário. Em 1962, publicou “O Retrato na Gaveta”, contos e novelas. Em 1963 publica o "Braço Direito", seu único romance, que recebeu o Prêmio Lima Barreto, instituído pelo livreiro Carlos Ribeiro, no Rio de Janeiro.

Em 1964, Otto publica a novela “A Cilada”, incluída no volume “Os Sete Pecados Mortais”, de vários autores. Entre os anos de 1966 a 1970 ocupou o cargo de Adido Cultural da Embaixada do Brasil em Lisboa. De volta ao Brasil, trabalhou no cargo de diretor do Jornal do Brasil. Em 1974 ingressou nas Organizações Globo, onde permanece durante dez anos.

Em 1979 é eleito membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº. 39. Em 1980, a Som Livre lançou o disco “Os Quatro Mineiros” com a gravação de leitura de poemas e textos em prosa de Otto, Fernando Sabino, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos. Em 1991, com 69 anos, Otto foi contratado como colunista do jornal A Folha de São Paulo. A coluna estreou com o título “Bom Dia Para Nascer”. Os ensaios publicados na imprensa lhe renderam o volume póstumo: “O Príncipe e o Sabiá”.

Escritor obcecado pela expressão perfeita, Otto Lara Resende voltava exaustivamente aos textos para corrigi-los, e foi com superior exigência que se dedicou a seu único romance, “O braço direito”, de 1963, do qual há cinco versões em seu arquivo. O livro, que dá voz a Laurindo Flores, bedel de um orfanato do interior de Minas, foi publicado em Londres como “The inspector of orphans”, em 1968.

A despeito de seu “seu soberano desprezo por gloríolas, mesmo glórias”, Otto Lara Resende recebeu diplomas, medalhas, títulos e prêmios que hoje tornam longuíssima a sua cronologia. Declarava-se “um poço de contradições”, e, se aceitou a imortalidade que a cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras lhe garantiu, em 1979, esteve mais próximo do jornalismo ao assumir a direção da Rede Globo de Televisão, em 1974. Naquela emissora, em 1977, fez um programa de entrevistas intitulado Jornal Painel, além de um quadro no Jornal da Globo, no qual entrevistou personalidades literárias. Em 1983, saiu da emissora e se aposentou no cargo de procurador do Estado do Rio de Janeiro.

“Familioso, familial”, declarava-se, conviveu amorosamente com a mulher, Helena Pinheiro de Lara Resende, com quem se casara em 1950, e com os quatro filhos: André, Bruno, Cristiana e Helena. “Como pai, me considero, modéstia à parte, uma mãe exemplar”, gabava-se. A morte, que com a idade ele afirmava ser “palpável”, chegou num momento em que, animado, assinava uma crônica na coluna diária intitulada “Rio de Janeiro”, no jornal Folha de S. Paulo. Parte dessa sua produção foi publicada postumamente em Bom dia para nascer, de 1993, que teve como organizador o jornalista Matinas Suzuki Jr.

Otto Lara Resende morreu em 28 de dezembro de 1992, no Rio de Janeiro.

Dentre as principais obras de Otto Lara Resende estão: O Lado Humano, contos, 1952; A Boca do Inferno, contos, 1957; O Retrato na Gaveta, contos, 1962; O Braço Direito, romance, 1963; A Cilada, conto, (Os Sete Pecados Mortais), 1964; As Pompas do Mundo, contos, 1975; O Elo Partido e Outras Histórias, contos, 1991; Bom Dia Para Nascer, crônicas, 1993; O Príncipe e o Sabiá, ensaios,1994; A Testemunha Silenciosa, novelas, 1995, entre outros.

 

Frases de Otto Lara Rezende

 

Para mim, é absolutamente fundamental que o espetáculo não termine aqui embaixo, na Terra.”;

A psicanálise é a maneira mais rápida e objetiva de ensinar as pessoas a odiar o pai, a mãe e os amigos.”;

"Devemos a Graham Bell o fato de estarmos em qualquer lugar do mundo e alguém poder nos chatear por telefone.";

Depois dos 50, a vida precisa de um anestésico.”;

A morte é, de tudo na vida, a única coisa absolutamente insubornável.”;

Sou jornalista, especialista em ideias gerais. Sei alguns minutos de muitos assuntos. E não sei nada.”;

Cada um que varra a sua porta, se o mundo não ficar limpo, pelo menos ficará menos sujo.”.

 

  

(Fontes consultadas: Site EBiografia – Dilva Frazão, O GLOBO – Memória, Instituto Moreira Salles, Wikipedia, PENSADOR)


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