Leituras diárias

segunda-feira, 14 de novembro de 2022


 


“A ciência torna-se todo dia mais sutil, acessível só a uma elite de especialistas; as aplicações técnicas da ciência tornam-se todo dia mais acessíveis à maioria. Em consequência disso, afrouxam-se as relações íntimas entre ciência e técnica, aquela cada vez mais abstrata, cada vez mais comercializada – e já não existe a “Medida” da qual a civilização precisa. Por isso, o progresso técnico não é incompatível com decadência intelectual. ‘Já no século XIX, os viajantes comerciais venderam facas e garfos aos antropófagos’. Realizaram-se as grandes esperanças ligadas à eliminação do analfabetismo? A maioria dos alfabetizados só chega a ler vespertinos. ‘Hoje em dia, o homem médio está diariamente e noturnamente informado de todas as coisas e mais algumas outras coisas’. Quase sempre pode dispensar e dispensa as experiências próprias e a meditação, recebe, em latas, os conhecimentos, as opiniões e as conclusões. Valores discutíveis são tidos como absolutos porque não é preciso nenhum esforço intelectual para aceitá-los. A capacidade crítica desaparece. ‘Justamente entre as pessoas cultas, de formação dispendiosa, encontram-se os preconceitos mais absurdos, aquela imbecilidade que costumam atribuir à plebe’.” (Carpeaux, págs. 51 e 52)

 

Otto Maria Carpeaux, Ensaios Reunidos 1946-1971 Volume II

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