SUS e saúde

sábado, 8 de abril de 2023


 "É magnífico que os antigos filósofos tenham podido viver tão livres sem por isso se terem tornado loucos nem virtuosos. A liberdade do indivíduo era imensamente grande."   -   Friedrich Nietzsche   -   O livro do filósofo


São poucos os países com um grau de desenvolvimento comparável ao do Brasil, que possuem um sistema de saúde equivalente ao SUS, o Sistema Único de Saúde. Segundo o site Poder 360, diversos países mantêm sistemas de saúde financiados pelo Estado, cuja gratuidade, no entanto, geralmente é limitada a determinados grupos etários (crianças e idosos), faixas de renda e situação social (refugiados, sem-teto, adictos, e deficientes). Outro aspecto é que dentre os países que reconhecidamente possuem um sistema de saúde público e universal, a exemplo do Canadá, Cuba, Portugal, Espanha, Suécia, Dinamarca e Reino Unido, entre os principais, o Brasil é o de maior população, com 215 milhões de habitantes. Estima-se que destes, cerca de 150 milhões de pessoas (cerca de 70% da população) sejam efetivamente usuários regulares do SUS. No mundo, o segundo país com o maior número de usuários do sistema público de saúde é o Reino Unido, com cerca de 67 milhões de habitantes.

Mesmo com a tarefa de atender um grande número de usuários, as verbas destinadas à Saúde vêm gradualmente caindo ao longo dos últimos anos no Brasil. Os recursos destinados ao SUS em 2022 foram os menores desde 2012, passando de R$ 200,6 bilhões (2021) para R$ 160,4 (2022), segundo o site GZH. Para 2023, o governo Bolsonaro aprovou um orçamente menor ainda, destinando apenas R$ 149,9 bilhões – uma redução de R$ 22,7 bilhões comparados a 2022 – para esta importante área. A situação calamitosa só pôde ser amenizada com a aprovação da PEC da Transição, aprovada pelo Congresso em dezembro de 2022, a pedido do novo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo especialistas, o SUS sempre foi subfinanciado, mas desde a aprovação da emenda constitucional 95, que estabelece um teto de gastos para as despesas do governo, a área da saúde está sendo “desfinanciada”, segundo expressão usada pelo professor de Economia Política da Sáude na Universidade de São Paulo (USP), Áquilas Mendes, em entrevista ao site GHZ em 15/02/2022. O investimento per capita na Saúde, segundo a Associação Brasileira de Economia da Saúde, vem caindo anualmente, sendo (por pessoa/ano): R$ 615 (2014); R$ 600 (2015); R$ 593 (2016); R$ 583 (2017); R$ 577 (2018); R$ 576 (2019); chegando a R$ 573 em 2020.

Apesar de ser um dos países mais populosos do planeta, os gastos do Brasil com a Saúde são menores que o de muitos outros. Assim temos (dados de 2015) o Brasil destinando 3,8% do PIB para a Saúde, enquanto Chile e Argentina destinam 4,9%; Alemanha 9,4%; Estados Unidos 8,5%; Portugal 5,9%; Reino Unido 7,9% e a China 3,2% do PIB para a Saúde. Especialistas afirmam que o financiamento da Saúde, criado com a Constituição de 1988, sempre foi abaixo das necessidades do sistema, situação que piorou a partir da criação do Teto de Gastos, durante o governo Temer em 2017.

Em paralelo ao estabelecimento do Teto de Gastos, o governo Bolsonaro também planejava dar início a uma gradual privatização do sistema público de saúde brasileiro. Uma das primeiras etapas deste plano era transferir a construção e administração das Unidades de Saúde Básica (UBS) dos municípios para a iniciativa privada, através do Programa de parcerias de Investimento (PPI). A iniciativa foi barrada através do Projeto de Decreto Legislativo 453/20.

Apesar de desacreditada na Europa e até nos Estados Unidos, a onda privatista ainda desperta certo interesse em setores da economia brasileira. Ainda mais se implantada em um setor cujos gastos devem chegar a 5% do PIB até 2030; cerca de R$ 500 bilhões ao ano em números de 2022. Qual não seria o interesse de convênios médicos e de redes privadas de clínicas e hospitais em poderem atuar neste mercado? O quanto não valorizariam as ações destas empresas médicas; muitas delas pertencentes a bancos e fundos de investimento nacionais e internacionais? Seria a financeirização do setor de Saúde, rendendo dividendos para investidores, enquanto que os custos seriam assumidos pelo Estado ou pelo cidadão. Comparativamente, seria o que ocorreu recentemente com a Petrobrás e o preço dos combustíveis, que são reajustados aos preços do mercado internacional, para garantir a rentabilidade das ações da empresa. Enquanto ganham os acionistas, a empresa deixa de investir na manutenção e ampliação de sua infraestrutura, para incrementar ainda mais a rentabilidade dos títulos dos acionistas.

O atual governo tem uma política completamente diferente para o setor da Saúde. Ficou claro através das declarações do presidente Lula e de seus ministros, que o SUS será reestruturado e modernizado e que aumentarão os investimentos a partir de 2024 (o orçamente de 2023 foi elaborado pelo governo anterior). Mesmo assim, o processo já começou gradualmente, com a retomada das campanhas de vacinação, a volta do programa Mais Médicos, a reativação da Farmácia Popular e a implantação de novos programas de saúde.


(Imagens: pinturas de Amadeo de Souza Cardoso)

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