Poder econômico e cultura na antiga Grécia

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

"Mas, de fato, nem todos os produtos e negócios adicionam valor. Muitos fazem exatamente o oposto; um resultado que Ivan Illich chama de 'desvalor'. Vender produtos que geram muitos resíduos, baratos, descartados rapidamente ou de utilidade marginal é mais comum do que deveria ser."   -    Paul Hawken     -    A ecologia do comércio


Entre os séculos VIII a VI a. C., a Grécia passa por grandes mudanças sociais e econômicas. A economia, que antes era baseada principalmente na produção das propriedades rurais pertencentes à aristocracia, agora é impulsionada pelo comércio internacional, baseado na exportação de cerâmicas e vinhos e na importação de diversos produtos originários do Egito, da Babilônia, de Cartago e das cidades gregas da Jônia (atual Turquia) e da Magna Grécia (hoje Itália). A nova classe econômica é constituída por comerciantes, armadores, artesãos, que passam a dominar o cenário econômico. “A crescente expansão da economia monetária frente à economia natural operou uma revolução no valor das propriedades dos nobres, que até então haviam sido o fundamento da ordem política. Agarrados às antigas formas de economia, os nobres estavam num plano inferior no comércio e na indústria”. (Jaeger, 2003, pg. 272).

Todavia, a transição de um tipo de economia e de uma classe dominante para outra não ocorre sem conflitos. O embate desta nova classe econômica com a antiga aristocracia agrária provoca desestabilização social. E é neste contexto, que surge a figura do tirano; alguém com poderio militar e apoio popular, com o objetivo de eliminar os conflitos sociais e econômicos. Neste processo, o tirano cria novas leis e instituições, enfraquecendo a antiga nobreza. Para fazer frente a esta ainda poderosa classe, o tirano precisa do apoio das classes ascendentes, desta nova “burguesia”. Em troca deste apoio político e econômico, o tirano concede uma série de vantagens à classe dos comerciantes e ao demo, ao povo.



Entre estas vantagens oferecidas, está o acesso à participação política e à gestão da pólis. Para justificar a nova ordem político-social, os tiranos procuram o apoio de poetas e outros intelectuais, que darão a justificação ideológica do novo ordenamento social. Desta forma, os tiranos passam a valorizar os poetas que cantam os heróis e os mitos condizentes com os novos tempos. Ao mesmo tempo, os tiranos valorizavam as artes, promovendo a divulgação da cultura. O apoio à cultura e à educação faz com que esta seja mais disseminada, deixando de ser uma exclusividade da antiga aristocracia. Comerciantes e povo, as novas classes em ascensão também passam a ter acesso às artes.

O processo se repete igualmente nas cidades jônicas, onde a classe dos comerciantes também ocupa cargos políticos e adquire um alto nível cultural. Exemplo desta nova mudança é a figura do filósofo Tales da cidade de Mileto, que pertencia a esta nova “burguesia” ascendente.

Bibliografia:
Jaeger, Werner, Paidéia – A formação do homem grego, São Paulo: Martins Fontes, 2003, 1.413 pgs.

(Imagens: fotografias de Thomaz Farkaz)

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