Meio ambiente e doenças

quinta-feira, 9 de agosto de 2012
"Como diz Whitehead, a natureza é uma coisa triste, sem cores, sons nem fragâncias: todos seus atributos são puramente humanos. Radical e inevitavelmente (mas, por que evitá-lo?), nossa visão do mundo é subjetiva, e cada um de nós cria cores e músicas, grosseiras ou delicadas, complexas ou simples, conforme nossa sensibilidade, nossa imaginação e nosso talento."  -  Ernesto Sabato  -  O escritor e seus fantasmas

Os efeitos das atividades humanas sobre o meio ambiente, a natureza, ainda tem aspectos imprevisíveis. Se nas regiões urbanas e as áreas agrícolas, ocupadas há muito tempo pelas atividades humanas, quase não restam vestígios dos ecossistemas naturais, mesmo assim o mundo natural continua influenciando as modernas sociedades. Há alguns anos cientistas já vinham alertando sobre novos tipos de vírus que o homem poderia encontrar ao avançar sobre as últimas áreas inóspitas do planeta, como as florestas situadas em áreas tropicais.
Segundo matéria publicada recentemente no jornal The New York Times, grande parte das doenças que afetam os seres humanos têm causas ambientais; 60% são de origem zoonótica, ou seja, transmitidas por animais. Destas, mais de dois terços por animais selvagens. Exemplo disso são as síndromes provocadas pelo vírus Ebola, pelo Oeste do Nilo, a Síndrome Respiratória Grave (SARS), a gripe aviária H5N1, a influenza H1N1, entre outros. São inúmeras as doenças viróticas que em têm origem nas espécies selvagens e que sofrendo mutações passam de uma espécie a outra até chegar ao homem.
O assunto é tão sério, que veterinários, biólogos e outros especialistas juntaram-se a médicos e epidemiologistas para tentar descobrir como a interação do ambiente natural com o humano pode resultar em novas doenças epidêmicas. O estudo faz parte de um projeto batizado de "Predict" (“prever” em inglês), financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. Neste estudo, os especialistas tentam descobrir como através da alteração do ambiente – seja pela derrubada da floresta para uma nova área agrícola ou construção de uma barragem –, colocando pessoas em contato com novos tipos de vírus, pode-se desenvolver-se uma doença desconhecida. O passo seguinte é localizar a moléstia quando surge, antes que se espalhe. Em seu trabalho os pesquisadores estão reunindo sangue, saliva e outras amostras de animais selvagens, a fim de criar um banco de espécies de vírus. Assim, quando uma destas cepas de microorganismos infectarem seres humanos, podem rapidamente ser identificados e combatidos. Além disso, os cientistas estão desenvolvendo técnicas de gestão de florestas, animais selvagens e gado, de modo a prevenir que doenças deixem a área florestal e se transformem na próxima pandemia. 
Os cientistas já identificaram vários casos de transmissão de doenças de espécies selvagens para domesticadas, chegando aos humanos.
Na Ásia, por exemplo, um vírus que tem como hospedeiro um tipo de morcego frutífero foi transmitido a uma criação de porcos – os morcegos deixaram cair frutos infectados pelo vírus e estes foram comidos pelos suínos. Posteriormente, a carne de porco foi consumida e o vírus terminou por infectar seres humanos. O fato, ocorrido na Malásia em 1999, teve como resultado a infecção de 276 pessoas, das quais 106 morreram de complicações no sistema neurológico, causadas pelo vírus. Desde então apareceram doze casos parecidos no sul da Ásia e outros na Austrália. "Qualquer nova doença nos últimos 30 ou 40 anos surgiu como resultado da ocupação de áreas selvagens e mudanças na demografia", afirma Peter Daszak um ecologista dedicado ao estudo de doenças. Eventos como estes também podem ocorrer nas vastas áreas ainda inexploradas do Brasil, onde vivem inúmeros microorganismos ainda desconhecidos.
(Imagens: fotografias de Eliott Erwitt)

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