Transporte no Brasil

quinta-feira, 2 de agosto de 2012
"A abordagem econômica convencional perde totalmente de vista o caráter de transformação física que decorre da criação de riqueza. Ao importar matéria do ambiente e organizá-la de modo que possa ser utilizada, a produção é uma oposição local e temporária à lei da entropia."  -  Andrei Cechin  -  A natureza como limite da economia

Mais da metade, 55%, de todas as cargas movimentadas no Brasil são transportadas via rodoviária. É um índice alto, comparado ao de outros países, que por uma questão de economia e praticidade também usam o transporte por hidrovias, ferrovias e navios de cabotagem. Na Europa, por exemplo, é possível transportar uma carga do Mar do Norte até o Mar Negro, atravessando todo o continente por meio de hidrovias, atravessando rios e canais, construídos ao longo dos últimos 200 anos. É um meio de transporte mais barato, menos poluente e mais seguro.
No Brasil, a opção pelo transporte rodoviário deu-se a partir da industrialização do País, durante o governo Kubitschek, na década de 1950. Para criar uma demanda por automóveis, caminhões e ônibus – justificando desta forma os investimentos que as montadoras planejavam fazer no Brasil – o governo deu início a um plano de ampliação da infraestrutura de transporte, com foco principal nas rodovias. O trem e o barco foram deixados de lado, em detrimento do caminhão. Nas cidades, o metrô e o trem de superfície até recentemente foram tratados como temas secundários, já que se priorizava o ônibus e o automóvel.
Este tipo de opção político econômica pode influenciar a evolução de um país ao longo de sua história. No caso do Brasil, temos uma rede rodoviária nacional de 1, 3 milhões de quilômetros, a maior parte da qual em mal estado de conservação, comprometendo a vida útil da frota e aumentando o preço dos fretes, ou seja, dos produtos que consumimos. Além disso, nossa frota rodoviária é relativamente antiga, queima um óleo diesel muito poluente (em comparação ao diesel dos Estados Unidos e da Europa) e está sujeita à falta de segurança em nossas estradas. O pior, é que não temos ainda alternativa para o transporte de grandes volumes de carga. As hidrovias, com exceção da hidrovia Tietê-Paraná, ainda estão em fase de desenvolvimento e ainda aguardam investimentos do Estado. As ferrovias, privatizadas na década de 1990, estão com diversos ramais desativados e só funcionam em seus troncos principais. O transporte de cabotagem ainda sofre com a oferta inconstante de carga, o que inviabiliza o estabelecimento de mais linhas regulares de navegação. A opção pelo transporte rodoviário também é causa da perda de parte considerável das colheitas, por falta de condições de escoamento e de exportação. As estradas se tornam intransitáveis e os portos têm sua logística interna baseada quase exclusivamente no caminhão, que tem capacidade muito menor do que o trem de carga.
Não é possível continuarmos com uma estrutura ferroviária, hidroviária e de cabotagem tão incipiente. As grandes cidades, por sua vez, necessitam de uma rede de metrô ou de trem de superfície mais ampla, para tirar o maior número possível de veículos das ruas. Por outro lado, é necessário planejar e ordenar o crescimento da estrutura de transportes das cidades menores e – com a utilização do ônibus – propiciar um serviço eficiente, a exemplo daquilo que a cidade de Curitiba implantou há mais de trinta anos.
O País precisa encontrar outras soluções para seus problemas de transporte. O indutor destas mudanças terá que ser o Estado, que com leis e incentivos atrairá a iniciativa privada.
(Imagens: fotografias de Carl Mydans)

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