Mudanças climáticas e escassez de alimentos

domingo, 26 de agosto de 2012
"Que o mistério da vida se reduza à conversão de um acaso em necessidade, que a vida não seja senão um acidente no universo e o homem um simples nômade, sem eira nem beira, quantos sábios desiludidos e cínicos já não no-lo disseram?"  Constantin Noica  -  As seis doenças do espírito contemporâneo

A mídia nacional e internacional informa que o mundo poderá passar por mais uma escassez de alimentos nos próximos meses. A crise, segundo a Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), ainda não tem as proporções daquela ocorrida no biênio 2007-2008, mas já começa a preocupar. Tanto assim, que a França e os Estados Unidos cogitam convocar o G-20 (as 19 maiores economias do mundo mais a União Européia) para que se pronuncie em conjunto sobre o assunto. Para muitos analistas tal providência seria importante, já que impediria que se repetissem os erros cometidos há cinco anos, quando muitas nações – inclusive grandes produtores de alimentos como a Índia – restringiram suas exportações. Outro aspecto é evitar que países importadores de commodities agrícolas se apressem em acumular grandes estoques. A falta de oferta aliada ao aumento da demanda provocaria uma escalada dos preços dos alimentos, que afetaria toda a cadeia alimentar mundial, prejudicando as nações mais pobres; exatamente aquelas que dependem de importações de alimentos para suprir sua população.
A origem do problema está nas condições climáticas adversas pelas quais grandes países produtores de alimentos, como os Estado Unidos, o Brasil e a Rússia, passaram nos últimos meses – fato que acabou comprometendo a colheita de diversos produtos agrícolas. A seca que assola os Estados Unidos deve dizimar um sexto da safra de milho e parte significativa da de soja, insumos fundamentais para a alimentação do gado. Como conseqüência, também poderá ocorrer aumento no preço da carne e dos laticínios. Na Rússia, as altas temperaturas do verão também prejudicaram a safra do trigo. No Brasil, as chuvas comprometeram parte da safra de cana-de-açúcar, fato que terá uma influência na produção de açúcar, produto do qual o Brasil é o maior exportador mundial. A colheita de arroz – principal fonte de alimento de parte considerável da população mundial – não sofreu qualquer abalo, felizmente.
Os acontecimentos, no entanto, já provocam aumento no preço dos alimentos. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, o preço do milho já subiu 23% no mês de julho e o trigo 19%. Em média, o preço dos alimentos no mundo sofreu um incremento de 6% no mês de julho, em comparação com o mês anterior. A redução da produção de alimentos motivada por fatores climáticos será sentida, com mais ou menos rigor, pela maioria das pessoas em todos os países. Enquanto que no Brasil, grande produtor agrícola, poderá ocorrer uma alta temporária no preço de certos produtos, em outros países, como o Egito e o Paquistão, o custo se elevará tanto que a população sem recursos poderá passar fome.
Outro aspecto desta situação é que de todo alimento produzido no mundo cerca de 35% é destinado à produção de forragem para alimentação de animais e 5% é destinado à fabricação de biocombustíveis e outros produtos industriais. Assim, ocorrendo uma queda na produção agrícola, aumentam os preços em diversas cadeias produtivas da economia mundial.
Fica claro, mais uma vez, o quanto nosso sistema econômico mundial e nossa própria sobrevivência individual estão relacionados com a natureza. Fatores climáticos, em parte influenciados por nossas próprias atividades, podem exercer uma profunda influência na história humana, provocando fome, crises econômicas, guerras e mortes.   
(Imagens: fotografias de James Reeve)

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