“Pode
parecer haver um desequilíbrio na quantidade de páginas dedicadas ao
determinismo, mas há algumas boas razões para isso. Primeiro, tomamos o
livre-arbítrio como garantido; vivemos por ele, o assumimos como a base para a
maioria de nossas ações e vidas diárias. E ainda assim, há muito pouca
explicação confiável, certamente de um ponto de vista naturalista, de como ele
funciona mecanicamente. Por outro lado, há uma enorme riqueza de evidências
para apoiar o determinismo de todos os tipos de disciplinas diferentes. Na verdade,
com o passar dos anos, o alcance do livre-arbítrio que a maioria de nós pensa
ter, diminui à luz de novas descobertas científicas. Ao mesmo tempo, a crença
em um método dualístico para permitir a escolha se torna mais difícil de
aderir.”
“Observando
todas as evidências que Wegner (Daniel M. Wegner, autor de The Illusion of Conscious Will) nos dá para o fato de que muito ou
toda a nossa vontade consciente pode muito bem ser ilusória (e há muito mais em
seu livro do que eu resumi), o ponto crucial do que ele tem a dizer envolve a
ideia de que a vontade consciente é ‘emoção de autoria’. Assim como nos
sentimos bravos ou tristes, irritados ou contemplativos, também podemos sentir
vontade, desde sentir que não temos vontade sobre um evento ou ação, até nos
sentirmos os únicos responsáveis por uma vontade. Como conceito, como
mencionei antes, o livre-arbítrio não faz sentido. O livre-arbítrio sem nenhuma
influência determinante é simplesmente aleatório. Eu poderia entrar em um bar
e, se não tivesse fatores determinantes para meu comportamento, eu simplesmente
faria qualquer coisa que viesse à minha cabeça. Essa aleatoriedade torna meu
comportamento completamente sem sentido. Portanto, eu absolutamente preciso de influências
determinantes para dar às minhas decisões qualquer tipo de significado. Eu
precisaria ser determinado pelo meu conhecimento das regras sociais, para não
tirar minhas roupas e correr nu pelo bar. Eu precisaria dos meus comportamentos
aprendidos que se enraizaram em mim, para me influenciarem a não dar um soco na
cara da pessoa mais próxima. Eu usaria a influencia dos meus genes, minha
criação e minha socialização aprendida, para pagar uma bebida para meu
companheiro no bar. É isso que torna o comportamento significativo.
Ter
livre-arbítrio libertário completo, em seu sentido extremo, não ajuda em nada.
Não ajuda em nada porque somos um animal social que depende da reciprocidade de
comportamento. Se eu coçar suas costas, há uma boa chance de você coçar as
minhas. Foi assim que aprendemos a cooperar, e essa é uma boa parte da razão
pela qual fomos bem-sucedidos como espécie. Aprendemos a trabalhar juntos em
comunidades, aprendemos a cultivar e a nos organizar em grupos especializados,
em uma sociedade muito complexa.”
Jonathan M. S. Pearce, filósofo, escritor e blogueiro inglês em Livre-arbítrio? Uma investigação sobre se temos livre arbítrio ou se eu necessariamente iria escrever este livro (Free Will? An investigation into whether we have free will or whether I was always going to write this book).


0 comments:
Postar um comentário