Outras leituras

quinta-feira, 17 de julho de 2025


 

“Ora, na realidade, para o existencialista, não existe outro amor do que aquele que se constrói, não há outra possibilidade de amor do que aquela que se manifesta em um amor, não há genialidade senão aquela que se expressa em obras de arte: o gênio de Proust é a totalidade das obras de Proust; o gênio de Racine é a série de suas tragédias, além disso não há nada. Por que atribuir a Racine a possibilidade de escrever uma nova tragédia, uma vez que exatamente ele não a escreveu? Um homem se compromete em sua vida, traça seu perfil, e fora dessa figura não há nada. Evidentemente essa forma de pensar pode parecer dura a alguém que não teve sucesso em sua vida. Mas, por outro lado, ela dispõe as pessoas a compreenderem que somente a realidade é que conta, e que os sonhos, as expectativas, as esperanças, permitem apenas definir alguém como um sonho malogrado, como esperanças abortadas, como expectativas inúteis; ou seja, isso as define negativamente, e não positivamente; entretanto, quando dizemos ‘Você não é outra coisa senão sua vida’, isso não significa que o artista será julgado unicamente a partir de suas obras de arte; milhares de outras coisas contribuem igualmente para defini-lo. O que queremos dizer é que um homem não é outra coisa senão uma série de empreendimentos, a soma, a organização, o conjunto das relações que constituem essas empreitadas.” (Sartre, pág. 34). 

“O existencialismo não é, sobretudo, um ateísmo no sentido de empenhar-se para demonstrar que Deus não existe. Declara, ao contrário, que, mesmo que Deus exista, isso não mudaria nada; este é o nosso ponto de vista. Não quer dizer que creiamos que Deus existe, mas que achamos que o problema não é sua existência ou não. O homem precisa encontrar-se ele próprio e convencer-se de que nada poderá salvá-lo de si mesmo, mesmo que houvesse uma prova incontestável da existência de Deus. Neste sentido, o existencialismo é um otimismo, uma doutrina de ação, e apenas por má-fé é que, confundindo seu próprio desespero com o nosso, os cristãos podem nos chamar de desesperançados.” (Sartre, pág. 48 e 49).

 

Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo, escritor, dramaturgo e ensaísta francês em O existencialismo é um humanismo

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