“No
Brasil, só pratica literatura, verdadeiramente, quem, dispondo de meios de vida
seguros, tem algum tempo a perder. A literatura não é uma carreira de que
alguém possa viver, mais ou menos gloriosamente. É, por assim dizer, um
esporte.” (Revista do Brasil, nº 41, maio de 1919).
“Em
Lima Barreto conjugam-se equilibradamente as duas coisas: o destino dos tipos e
a pintura do cenário; por isso dá ele, melhor que ninguém, a sensação carioca. É um revoltado, mas um
revoltado em período manso de revolta. Em vez de cólera, ironia; em vez de
diatribe, essa nonchalance
filosofante de quem vê a vida sentado num café e amolentado por um dia de calor...”
(Revista do Brasil, nº 39, março de 1919).
“O
protecionismo protege, não o povo, não o país, mas apenas a maioria feliz dos
industriais bastante hábeis para conseguir dos congressos as leis pro domo sua, e na imprensa o
malabarismo de argumentos que faz do branco preto e embrulha o idiota do consumidor.
Esta é que é a verdade nua e crua.” (Revista Brasil nº 32, agosto de 1918).
“Na
verdade, o homem é entre nós o pária eterno, sem direito, sem educação fácil,
sem saúde, sem higiene e sem moral: era a princípio o degredado e o aventureiro
que não mereciam consideração alguma; depois, de envolta com estes, o índio
submetido, que não era gente; depois, o escravo preto, largo tempo entregue à
terra, sem outro cuidado do patrão ou dos governos que não fosse a fiscalização
do seu trabalho de máquina; depois, o colono... De modo que de toda essa gente
não têm pensado os magnatas – os magnatas não pensam em nada – que se ia
formando uma sociedade, com maiores direitos à vida e ao respeito de sua
qualidade humana do que a dos degredados, escravos, negros índios e colonos. De
tudo isso surgiu um homem, com qualidades e defeitos, mas um homem – o brasileiro.”
(Revista do Brasil, nº 46, outubro de 1919).
José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), escritor, jornalista, editor, advogado e empresário em Monteiro Lobato – Críticas e Outras Notas


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